Açoriano Oriental
“A Casa D´Elas” promove gastronomia tradicional em regime de take away e serviço de peixaria a preços mais acessíveis

 Entramos n´A Casa D´elas e o cheiro é de casa nova. Depois de tantos anos num processo difícil de concretização do projeto da Associação Marítima de Pesca e Aquicultura da ilha Terceira, também conhecida como Associação de Mulheres dos Pescadores. Com vista sobre o Porto de São Mateus, a nova casa vai obrigar a uma mudança definitiva, mas só lá para o final do ano. Até lá a Casa D´Elas quer cimentar os novos projetos de peixaria a preços mais acessíveis, serviço de take away e promoção de formações.

“A Casa D´Elas” promove gastronomia tradicional em regime de take away e serviço de peixaria a preços mais acessíveis

Autor: Tatiana Ourique / Açoriano Oriental

 Sara Silveira, presidente da associação, recebeu o Açoriano Oriental n´A Casa D´Elas e apresentou as instalações e o projeto. Ao fundo do corredor está o sorriso tímido com que a Rafaela recebe todos os clientes do serviço de take away diariamente. “Já estamos a esgotar as doses antes da hora de almoço. Os nossos clientes já se habituaram a ligar-nos a meio da manhã e a encomendar. “Especialmente quando fazem os chicharros fritos com bolos fritos. Ou o molho de raia, ou as tortas de peixe ou ainda a moreia em vinha de alhos frita. Porque este projeto também pretende divulgar a gastronomia local e as receitas tradicionais que estão a perder-se. As pessoas têm aderido muito e torcido muito por nós, gostam do conceito do projeto e apoiam a iniciativa”, disse orgulhosamente Sara Silveira.

 A Associação nasceu com a missão de “defesa, promoção e representação dos interesses da comunidade piscatória e da aquicultura, nomeadamente, através de: formação profissional, missões empresariais, reforço do papel do associativismo empresarial e parcerias com entidades públicas ou privadas”, disse a presidente da direção ao Açoriano Oriental.

 Surgiu primeiro como Associação das Mulheres de Pescadores e Armadores da Ilha Terceira em 2007 e “depois de uma grande crise financeira e correndo o risco de fechar as portas, em 2011, entrei como Presidente da Direção acompanhada de uma equipa, na tentativa de darmos a volta à situação”, disse a mulher natural de São Mateus que aproveitou a entrevista para sensibilizar eventuais novos associados: “Temos cerca de 60 associados. Qualquer pessoa pode ser nossa associada (não precisa estar ligada à área da pesca), muitas pessoas tornam-se associadas porque temos protocolos e descontos com várias entidades como clínicas dentárias, oculista, seguros entre outras empresas. Neste momento já temos peixaria, take away e sala de formação”. Sala essa que Sara pretende rentabilizar em benefício da saúde financeira da associação.

 A formação é uma das prioridades da Associação Marítima de Pesca e Aquicultura da ilha Terceira: “ao longo destes anos temos desenvolvido várias atividades como a Pesca Turismo, os workshops de uso de algas açorianas na culinária, o 1.º festival de gastronomia de peixe da ilha Terceira. Temos o apoio escolar para as crianças da comunidade piscatória e o programa de doação de roupa, livros e brinquedos, que já funcionam há alguns anos com o apoio do Governo Regional dos Açores. Em parceria com a GRATER e com a CMAH já realizamos formações de presépio de lapinha, escama de peixe e iniciação de inglês. Com a nossa nova sala de formação temos intenção de continuar com parcerias para vários tipos de formação de forma a qualificar e formar, cada vez mais, os membros da nossa comunidade e em especial as mulheres”, adiantou Sara Silveira.

 A AMPA tem-se deparado ao longo dos anos com vários desafios, nomeadamente, a falta de disponibilidade das pessoas para integrarem os órgãos sociais em cada ato eleitoral. Sara Silveira lamenta, ainda “a crescente burocracia e falta de apoios financeiros para se pôr em prática projetos que dinamizam a economia local, criam postos de trabalho e qualificam as pessoas para o mercado de trabalho”.

 A Casa D´Elas será, a breve trecho, a nova sede da AMPA. “Este projeto nasceu há 5 anos da grande vontade que tínhamos de dinamizar a comunidade local, valorizar o nosso pescado, tornar a compra de peixe mais acessível, dar uma oportunidade às mulheres desta comunidade de terem os seus rendimentos e mais formação e também de tornarmos esta associação menos dependente de subsídios, perceber se podíamos andar com as nossas próprias pernas”. Para a dirigente da associação “O conceito de peixaria, take away e sala de formação era o ideal para aplicarmos o conceito de economia circular no setor do pescado, pois não temos desperdício deste recurso, o peixe, além de vendido na peixaria, é transformado em várias receitas, a maioria delas tradicionais, já feitas pelos nossos avós e bisavós, para aproveitarem ao máximo tudo o que tinham naqueles tempos difíceis”, um conceito que acredita ser ainda mais necessário na atual conjuntura de inflação.

 “Depois nos candidatarmos a muitos apoios, nacionais e internacionais, e depois de muitas promessas não cumpridas, a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo acreditou no nosso projeto e apoiou-nos com a parte da obra do edifício, em duas fases. Neste momento já criamos quatro postos de trabalho, todas mulheres”, adiantou.

 A 12 de novembro de 2022 – data da inauguração -, “percebemos que tinha valido a pena termos passado por todas as burocracias e impedimentos com muita insistência e persistência”, desabafou a presidente da AMPA.

 O serviço de peixaria foi criado com o objetivo de tornar os preços mais acessíveis à comunidade: “temos feito o possível para que isto aconteça, pois, o pescado está a vender-se na lota cada vez mais caro e já se nota a escassez deste recurso”.

 Para os novos serviços há outras ambições: “Queremos continuar com estes projetos e ir mais além comercializando alguns produtos tradicionais prontos para a pessoa preparar em sua casa. Estamos a aguardar uma carrinha que nos permitirá fazer entregas ao domicílio, chegando assim, à população mais idosa”. Há ainda o sonho de pôr em prática novos projetos na área do turismo e aquicultura que, promete, vão gerar novos postos de trabalho e promover o desenvolvimento da comunidade local.

 Atualmente a AMPA tem a sede no Porto de São Mateus. “Foi-nos cedida pelo Grupo Social Santo Agostinho e vamos ter de devolvê-la até ao fim do ano. No entanto, os projetos que funcionam lá são diferentes dos que estão em funcionamento na Casa D' Elas, o apoio escolar às crianças da comunidade e o programa de doação de roupa já funcionam há 7 anos. O apoio escolar funciona dois dias por semana e apoia 13 crianças. Já o programa de doação de roupa apoia cerca de 140 agregados familiares da ilha Terceira. É também na atual sede que está a logística da atividade pesca turismo e, desde sempre, a nossa loja de artesanato”, conclui a representante da AMPA.


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