Açoriano Oriental
“Cantando e compondo, sou quem não consigo ser no dia a dia”

Marisa Oliveira. Conhecida pela sua voz grave, a vocalista dos The Code, banda que anunciou há alguns dias que chegou ao fim, revela o seu percurso pessoal, como nasceu o grupo e como se afirmou no panorama musical. Revela ainda o significado que a música tem para si e garante que não vai deixar de compor e cantar


“Cantando e compondo, sou quem não consigo ser no dia a dia”

Autor: Paula Gouveia

É conhecida como a Marisa dos The Code. E a sua voz é o seu cartão de apresentação. Marisa Oliveira canta desde pequena. Primeiro, nas festas da escola do primeiro ciclo, e depois no coro da igreja da Ajuda da Bretanha, freguesia da costa norte da ilha de São Miguel onde cresceu.

“Sempre me lembro de gostar de cantar”, diz Marisa, puseram-me na ‘segunda voz’ por causa da minha voz grave. Vibrava com os ensaios, e, nos dias de festa da paróquia, metíamos em prática todo o trabalho de meses de ensaios”, recorda.

A vocalista da banda que anunciou há dias que vai pôr um ponto final no projeto, puxa pela memória: “ainda miúda e, mesmo sem perceber inglês, escrevia o que ouvia das letras dos temas dos meus ídolos da época e repetia-as até decorar todos os temas! Nessa altura, sonhava muito em cantar nos palcos”.

“Passei toda a minha infância na Bretanha e arredores. Raramente, de lá saía”, conta. “Cresci junto da minha irmã e do meu irmão que adotámos quando tinha três anos. Tinha eu 8 anos e a minha irmã 13”, explica, vincando que vem de “uma família muito trabalhadora honesta e humilde. O meu pai passou a vida a cuidar da lavoura, a minha mãe a cuidar do nosso lar. Muitas vezes acompanhámos o meu pai até às vacas. A minha mãe levava um bolinho e ficávamos sentadas a ver o meu pai cuidar das vacas, enquanto degustávamos de uma bela fatia de bolo”, relembra.

Passou a infância rodeada da sua família materna. “Aos domingos, íamos a pé visitar os meus avós e lá encontrávamo-nos todos: os meus primos, primas, tios e tias. 

Passávamos o domingo a brincar e a comer. Era impossível não comer as delícias da nossa avó”, confessa.

Mais tarde, começou a participar em concursos de Karaoke, de onde saiu com prémios.

Mas foi na banda “Anjos Negros”, a sua primeira banda de originais, que começou a “cantar a sério”. Cantava apenas em inglês e éramos uma banda de rock pesado. 

Curiosamente, quase todos os membros desta banda, fizeram parte dos The Code.

Em 2012, surgiram os The Code.

Completou o primeiro ciclo na Bretanha e o ensino básico na escola das Capelas. “Estudei depois na Domingos Rebelo e decidi em 2006 ingressar em Turismo na  Universidade dos Açores, licenciando-me em 2009”.

Mas, como salienta Marisa: “Inevitavelmente, a música não é o meu único meio de subsistência”. O seu dia é preenchido na área da contabilidade e, em breve pretende transformar o “hobby” de fazer sobremesas num negócio.

Confessa, contudo, que foi “graças à música” que viveu “momentos incríveis e inesquecível” e teve “a oportunidade de conhecer gente maravilhosa”.

Por outro lado, diz que a música a fez “crescer e experienciar coisas que só esta arte tem o poder de oferecer. Cantando e compondo, sou quem não consigo ser no dia a dia. A música transporta-me de uma forma inexplicável”, confessa.

Das experiências que vivenciou, revela que “acima de tudo, são as pessoas que nos marcam pelo que são e pelo que nos fazem sentir! Chorei e sorri junto de pessoas que me eram desconhecidas. Chorámos e sorrimos juntas”, recorda. “A música conecta e faz-nos sentir o inexplicável! Jamais esquecerei os concertos e os sentimentos e energia que o público conseguiu passar-me durante todos estes anos”, garante.

Um dos momentos muito importantes foi a viagem dos The Code aos Estados Unidos. “Levámos o nome ‘Açores’ até ao continente americano”. E “ganhámos por três anos consecutivos vários prémios nos IPMA - International Portuguese Music Awards”, acrescenta.

Os The Code nasceram em 2012. Já se conheciam da banda Anjos Negros e decidiram trabalhar em estúdio, para divulgar o seu trabalho. Mas, foi só em 2016/2017 que se deram a conhecer ao público. “Começámos a tocar ao vivo com piano, guitarra e voz”, mas “nessa época, nos nossos  concertos, interpretávamos, maioritariamente, temas de outros artistas”, mas “começámos a inserir originais nossos”, até que foram abordados por Brito Ventura que estava a assistir ao concerto no Mitolândia, com o pedido para que tocassem mais originais. Brito Ventura acabou por enviar alguns temas para a Farol Música e, “semanas depois estávamos a assinar um contrato de promoção digital” e “a Farol Música acabou por conseguir levar-nos até às telenovelas portuguesas”, relata.

Quando questionada sobre o que explica o sucesso dos The Code, Marisa afirma que “acima de tudo, muito trabalho. Muito carinho e paixão pela música e pela mensagem que criámos”. Mas também “um estilo muito próprio e que, de alguma forma, nos diferenciou”. Por um lado, “houve muito investimento profissional e pessoal por parte de cada um de nós”, e por outro, “acredito que as coisas também aconteceram da maneira que aconteceram por estarmos no sítio certo à hora certa”, e “sempre agarrámos as oportunidades que apareceram pelo caminho.”.

Sobre as razões do fim da banda, Marisa revela: “Estávamos com objetivos e visões diferentes. Reunimo-nos e decidimos que o melhor seria terminar o projeto”.

Sobre o futuro, Marisa Oliveira adianta que tem “alguns desafios em mãos” que irá “agarrar na altura certa, quando sentir que é o momento”.

Uma certeza tem: “Não pretendo deixar de cantar nem compor. Não vou. Faz parte de mim. Faz parte da minha essência. Seria infeliz se não desse continuidade à música que há em mim”.  Até porque diz: “A música lembra-me daquela menina que só quer cantar e ser feliz”.

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