Autor: Rafael Dutra
Para muitos açorianos a presença de um presépio tradicional é necessária no dia de Natal. Há quem anseie prepará-lo e criá-lo em família.
Foi esta tradição e este sentimento natalício e em família, que fez com que Rafaela Cabral quisesse, pelas suas próprias mãos, fazer os seus presépios de Natal e formar-se em arte bonecreira.
Conforme declara Rafaela Cabral em entrevista ao Açoriano Oriental, “[a minha família] sempre teve presépio no Natal. Vários elementos da minha família criavam presépios enormes nas suas casas, até móveis tinham de tirar das salas para poderem criar presépios muito grandes”.
Rafaela Cabral tem 28 anos e é natural de Água de Pau, no concelho da Lagoa. É neste concelho que tem apostado muito na formação na arte bonecreira, tendo desenvolvido as competências artesanais na criação de bonecos em barro para presépios.
Em 2022, após a lagoense ter conhecimento de uma formação promovida pela Câmara Municipal da Lagoa, no âmbito do projeto Novos Bonecreiros, e porque “sempre tive gosto em criar um presépio na minha casa e, uma vez, que os bonecos são caros de adquirir”, decidiu participar na formação e aprender com o bonecreiro João Arruda.
“Tive essa oportunidade e agora faço o meu próprio presépio com os meus bonecos. Nunca pensei que um dia isso pudesse acontecer”, destaca a bonecreira lagoense, admitindo ainda que, após a conclusão da formação, começou a “criar algumas peças e, desde então, fui sempre criando”.
Apesar de não ser a sua profissão, e de ainda muitas pessoas não saberem que é artesã, Rafaela Cabral passa grande parte do seu tempo livre a trabalhar em encomendas, principalmente para presépios de lapinha, que “têm tido muita saída”.
A bonecreira
destaca o seu trabalho de pintura como a sua principal característica de
diferenciação. Neste sentido, diz que os seus “clientes, colegas e
amigos” acabam por elogiar a utilização de “cores vivas”, o seu
perfeccionismo e a minuciosidade que dedica aos detalhes faciais e às
roupas dos bonecos, que diz serem “muito chamativos”.
Além destes
comentários positivos teve também um voto positivo de júris nesta área.
Em 2022 candidatou-se ao concurso de presépios em duas categorias:
presépio tradicional e figurado contemporâneo.
Para o primeiro concurso elaborou um presépio de 150 figuras todas criadas por si, tendo ficado em 2.º lugar. Já para o concurso de figurado contemporâneo criou um boneco de barro que não existia, a peixeira, o que lhe levou a ser distinguida com o prémio de 1.º lugar nessa categoria.
Ser agraciada em ambas as categorias foi “muito gratificante” para a artesã, especialmente porque a criação do boneco da peixeira está associada a um sentimento pessoal.
“Venho de uma família piscatória: o meu pai, tios, primos, grande parte da minha família pertence ao setor da pesca. Pensei... porque não fazer uma pescadora? Sou filha de um pescador, vou criar uma peixeira”, explica.
No futuro pretende continuar a aprender e a melhorar nesta área, e tenciona realizar mais formações de artesanato. “Ouvi uns rumores que vai haver uma formação de vimes e tenho também gosto em participar. Tudo o que é com as mãos eu dou muito valor e gosto muito de aprender”, conclui.