Autor: LUSA/AO Online
“Na minha opinião, [os Açores] têm estado subaproveitados, como é óbvio. Mas têm recuperado nos últimos anos muita da sua vocação”, disse Eduardo Brito de Azevedo, à Lusa, acrescentando que “a ideia de um centro de estudos meteorológicos no atlântico” vem do século XIX. Brito de Azevedo é coordenador do projeto CLIMAAT, surgido em 2004 e que visa o desenvolvimento de metodologias específicas para o estudo da meteorologia e clima nas regiões insulares atlânticas (Açores, Madeira e Canárias), bem como a cooperação científica internacional. Para o docente na Universidade dos Açores, a tecnologia fez esquecer durante alguns anos a excelente posição dos Açores para os estudos do clima. No entanto, nos últimos anos, o panorama mudou, com o surgimento de novos projetos científicos, o que denota que se voltou a perceber a importância da região para o estudo mundial neste domínio. “De certa forma, está a ser recuperada essa vocação que o arquipélago tem e essas capacidades que tem no domínio das ciências atmosféricas e claro que não estão dissociadas das ciências do mar. Enfim, julgo que se criou ou está a criar, e já temos infraestruturas que provam isso, aquilo que hoje em dia se chama um ‘cluster’ de interesse no domínio das ciências atmosféricas”, referiu Brito de Azevedo. Segundo disse o investigador, na sequência do projeto CLIMAAT, surgiram outros nos Açores, como a estação internacional, com tecnologia de ponta, na ilha Graciosa, para estudar o processo de geração de nuvens, ou outro no cimo da montanha do Pico, ponto mais alto de Portugal, que mede a atmosfera a um nível diferente do que é medido ao nível do mar. “A estação [na Graciosa] do programa ARM, do departamento de energia do Estados Unidos, de certa forma, decorre desta atividade que o grupo do projeto CLIMAAT tem vindo a desenvolver há alguns anos e que, de certa forma, tem recuperado o que já se sabia de que os Açores são um sítio de excelência para o estudo da meteorologia e climatologia no atlântico”, afirmou Brito de Azevedo. O professor universitário explicou que os Açores são “excelentes” para os estudos do clima ao nível mundial porque estão afastados de dois grande continentes (americano e europeu), que limitam as margens do atlântico, o que permite estudar uma série de fenómenos relacionados com a interação com o oceano e a atmosfera de “uma forma mais limpa”. Além disso, o arquipélago situa-se numa zona de confrontação de massas de ar de origem polar e tropical muito ativa, acrescentou.