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Fiéis compram toneladas de cera para pagar promessas em tempo de crise
A crise leva os fiéis do Santo Cristo dos Milagres, nos Açores, a "agarrarem-se" mais à fé, devendo as vendas de círios para pagar promessas no Santuário da Esperança atingir as seis toneladas de cera por estes dias.

Autor: Lusa/AO online

“A crise está a dar mais fé. As pessoas agarram-se a ver se a vida melhora”, afirmou o Caetano, trabalhador permanente do Santuário da Esperança, no Campo de São Francisco, em Ponta Delgada, onde no próximo fim-de-semana decorrem as festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, festejos que têm mais de três séculos.

Embora os círios possam ser adquiridos ao longo do ano, é na semana que antecede os festejos que abre um espaço próprio no santuário destinado à venda.

“Vendemos cera todo o ano. Mas esta semana é que a porta está sempre aberta”, explicou o funcionário do santuário, revelando que as vendas chegam a atingir as "seis toneladas de cera".

Por estes dias, a procura por círios "é grande", mas Osvaldo Caetano garante que há quem compre também "horas antes da procissão de domingo", um cortejo que se realiza desde 1700 e é um dos pontos altos das festas.

Com preços que se "mantêm", os fiéis podem adquirir círios entre um e 25 euros.

“As pessoas compram círios ou do tamanho da pessoa ou do peso, depende da promessa, enquanto outros só compram mas não levam o círio”, explicou, relatando o caso de um morador em Rabo de Peixe, na Ribeira Grande, que "todos os anos leva cerca de 70 quilos de cera no sábado" na Procissão da Mudança da Imagem do Ecce Homo, que sai à tarde do coro baixo do Convento da Esperança para a igreja anexa, num trajeto à volta do Campo de São Francisco.

No Campo, recentemente alvo de obras de requalificação, fazem-se os últimos preparativos e testam-se as milhares de lâmpadas que vão iluminar o Santuário da Esperança e o Campo de São Francisco, palco das festas.

À porta do local de venda de círios, Sandra sublinha a sua devoção ao Senhor Santo Cristo dos Milagres e admite que conseguir emprego para um familiar é a razão de pagamento de promessa.

“Todos os anos compro um círio por causa de uma graça recebida pelo meu marido e filha. Os círios são da altura deles, o maior tem um metro e setenta e a pequenina um metro e seis”, relatou à Lusa.

Aguardando pela sua vez, também Conceição veio de São Roque, concelho de Ponta Delgada, para comprar círios para a procissão de sábado, mas desta vez será para o marido.

“Eu paguei a minha promessa no ano passado. Temos seis filhos, mas agora dois é que estão a precisar e um netinho que nasceu com problemas, mas graças a Deus já está bom”, disse.

Mais ao lado, João compra também círios: “Dois de cinco euros”, pede este peregrino.

"Nós apegamo-nos a nosso Senhor e vamos vivendo", diz.