Escritor Anthony Marra nos Açores para falar dos seus romances “obscuros e engraçados”
13 de nov. de 2018, 18:15
— Lusa/AO Online
O
escritor, de 34 anos, que pensa as suas obras como peças musicais,
declarou em entrevista à agência Lusa que os romances que mais o
sensibilizam e os que tenta escrever “tendem a ser obscuros e
engraçados”.“Penso
nisso quase como uma composição musical: as notas graves inferiores
fazem as notas de soprano mais altas destacarem-se, e vice-versa”,
afirma o autor de “Uma Constelação de Fenómenos Vitais”, que venceu o
Prémio John Leonard inaugural do National Book Critics Circle, dos
Estados Unidos, a par dos galardões Anisfield-Wolf Book e Barnes and
Noble Discover.Para
o jovem escritor, residente em Oakland, na Califórnia, é “importante
que um romance tente conter um amplo espectro da experiência humana”,
tendo este a “tendência de desconfiar daqueles que não o fazem”.Tendo
vivido e estudado na Rússia, Anthony Marra acabou por escrever o conto
“Chechénia”, uma região “em grande parte não abordada na ficção
contemporânea” que, no entanto, “oferece a oportunidade de investigar as
questões geopolíticas que dominaram os últimos trinta anos da história
europeia”.“É
onde os grandes conflitos globais dos séculos XX e XXI convergem, onde o
colapso do comunismo se sobrepõe à ascensão do jihadismo. A ameaça do
expansionismo russo e o espalhamento do autoritarismo ao estilo de Putin
- agora tão evidente na Europa - eram visíveis na Chechénia há anos
atrás. Espero que este romance se torne uma lente de aumento para
examinar essas escolhas políticas e morais”, ressalva o escritor.O
romancista, cujo tio é descendente de emigrantes dos Açores, refere
que, na literatura portuguesa, aprecia escritores como José Saramago e
António Lobo Antunes, tendo o primeiro sido “uma influência importante”.Está
“menos familiarizado” com os escritores portugueses mais recentes,
simplesmente porque “tão pouca ficção internacional é traduzida nos
Estados Unidos”, o que torna um evento como o “Arquipélago dos
Escritores” algo “ainda mais significativo”.Além
de “Uma Constelação de Fenómenos Vitais” ("A Constellation Of Vital
Phenomena"), o seu rasto literário contempla o conto "Chechénia" e "Os
Lobos da Floresta de Bilaya" ("The Wolves of Bilaya Forest").Possui ainda uma coleção de contos denominada “O Czar do Amor e Techno: Histórias” ("The Tsar of Love and Techno: Stories").A
primeira edição do encontro literário “Arquipélago dos Açores”, decorre
de quinta-feira a domingo, em Ponta Delgada, contando com a presença de
cerca de duas dezenas de autores regionais, nacionais e estrangeiros.