Zimbabué assiste a primeiro fazendeiro branco a recuperar terras com novo Presidente
22 de dez. de 2017, 10:40
— Lusa/AO online
Acompanhado
por uma escolta militar, Robert Smart reentrou na sua quinta de
Lesbury, 200 quilómetros a leste de Harare, sendo saudado efusivamente
por dezenas de trabalhadores e de membros comunitários, cenas
impensáveis há poucos meses num país em que a propriedade da terra é uma
questão emocional e os fatores políticos e raciais são marcantes.Há
quase duas décadas, a lei da reforma agrária, decretada pelo então
regime de Robert Mugabe, obrigado a resignar em novembro último, levou à
ocupação das quintas e terras pertencentes à minoria branca por
agricultores negros, liderados sobretudo por altos dirigentes da União
Nacional Africana do Zimbabué – Frente Patriótica (ZANU-PF) e por
veteranos da luta pela independência.A
minoria branca constituía, então, apenas 1% da população daquele país
da África Austral, mas detinha a quase totalidade das terras férteis,
deixando para a comunidade negra os terrenos menos produtivos e difíceis
de trabalhar na agricultura.A
ocupação de terras decretada por Mugabe foi um sinal dirigido à
propriedade colonial e visava equilibrar a propriedade, alegou o então
presidente zimbabueano, cuja decisão causou irritação na comunidade
internacional, que chegou a impor sanções económicas ao país.Dos
mais de 4.500 fazendeiros brancos existentes antes do início da reforma
iniciada em 2000, apenas se mantêm no país pouco mais de uma centena.Mas
Mugabe foi obrigado a demitir-se em novembro, numa sublevação militar
que se salvou por pouco de ser considerada um golpe de Estado – a União
Africana impôs “tolerância zero” a esse tipo de práticas no continente
-, e o novo Presidente, Emmerson Mnangagwa, prometeu devolver as terras
aos fazendeiros brancos, face também à fraca produtividade das terras
nas mãos dos agricultores negros.Daí
que, paradoxalmente, tenham sido os mesmos veteranos da guerra e os
mesmos líderes tradicionais que tinham ocupado as terras a saudarem
efusivamente o regresso a Tandi da família de Robert Smart.A
14 deste mês, o novo ministro da Agricultura do Zimbabué, Perence
Shiri, ordenou a evacuação das explorações agrícolas que pertenciam a
fazendeiros brancos e que foram ocupadas ilegalmente e criticou a
reforma agrária decidida por Mugabe.“Apenas
as pessoas que são portadoras de um documento oficial atestando a
pertença das terras ou os que as receberam de forma legal poderão
permanecer e continuar as lavras”, acrescentou Shiri, marechal do
exército zimbabueano que dirigia a Força Aérea e foi um dos quadros
militares que obrigaram Mugabe, aos 93 anos, a abandonar o poder.Centenas de fazendeiros brancos contestaram a decisão nos tribunais, mas apenas alguns conseguiram regressar às suas terras.O
novo presidente zimbabueano prometeu, porém, que não iria pôr termo à
reforma, mas garantiu que o Governo de Harare irá compensar os antigos
proprietários brancos cujas quintas foram ocupadas ilegalmente.