Xi Jinping deve consolidar o seu poder e a agenda autoritária para a China
24 de dez. de 2021, 15:35
— Lusa/AO Online
Xi, um dos líderes
mais fortes da história recente do país, comparável ao fundador da
República Popular, Mao Zedong, deve assim quebrar com a tradição
política das últimas décadas. Desde que
ascendeu ao poder, em 2013, Xi tornou-se o núcleo da política chinesa,
desmantelando o sistema de "liderança coletiva" cimentado pelos líderes
chineses desde finais dos anos 1970. Sob a sua liderança, o PCC voltou a
penetrar na vida política, social e económica da China.
A “Campanha de Prosperidade Comum” deverá também marcar a China no
próximo ano. Em causa está o retorno do país às suas raízes comunistas,
após décadas de reformas liberais, que criaram contradições e
desigualdades vistas pela liderança da China como perigosas para a
estabilidade política. Esta campanha
resultou já no desaparecimento de celebridades, consideradas “vulgares” e
que promovem estilos de vida “lascivos”, e em fortes punições contra as
maiores firmas tecnológicas da China.
As medidas para transformar a sociedade chinesa incluem também regras
que estipulam que os menores só podem jogar ‘online’ entre as 20h00 e as
21h00 às sextas-feiras, sábados e domingos, ou a eliminação da
indústria de cursos de apoio e preparação para os exames de acesso ao
ensino superior. No setor imobiliário,
medidas para reduzir os níveis de alavancagem resultaram no colapso de
algumas das principias construtoras, entre as quais o grupo Evergrande é
o caso mais mediático. A imprensa estatal caracterizou os eventos como uma “profunda transformação” da China.
Para N.S. Lyons, analista e escritor sediado em Washington, a
campanha assinala a vitória da fação neo-autoritária dentro do PCC,
contra membros mais liberais. “A era de
tolerância com o liberalismo económico e cultural na China acabou”,
descreveu o analista, num ensaio publicado em outubro.
Lyons atribuiu as reformas ao pensamento político de Wang Huning, uma
das mais discretas e antigas figuras da atual liderança chinesa.
Outrora um proeminente académico, Wang é atualmente um dos sete
membros do Comité Permanente do Politburo do Partido Comunista da China
(PCC), a cúpula do poder no país, e assumiu o papel de ideólogo nos
últimos três executivos da China, como diretor do Escritório Central de
Pesquisa Política do PCC, instituição responsável por fornecer
recomendações em questões de governação.
David Kelly, diretor da unidade de investigação China Policy, de
Pequim, disse à Lusa, no entanto, que é no plano internacional que Xi
quer deixar o seu "grande legado". "A
China vai trazer para o mundo moderno a sua sabedoria milenar e
recuperar a grandeza de outrora. Vai oferecer ao mundo uma solução
chinesa. E isto vai ser atribuído a Xi", indicou o analista, sobre a
nova narrativa do regime. A postura
internacional mais assertiva reflete-se nas reivindicações territoriais
no Mar do Sul da China, nos conflitos na fronteira com a Índia ou no
aumento da pressão sobre Taiwan, ilha que Pequim reclama como uma
província chinesa, apesar de funcionar como uma entidade política
soberana. As mudanças levaram a relação
entre a China e os Estados Unidos a deteriorar-se rapidamente, com
várias disputas simultâneas, incluindo uma prolongada guerra comercial e
tecnológica. Em Pequim e em Washington, referências a uma nova Guerra
Fria tornaram-se comuns. Wang Xing,
professor na Faculdade de Estudos do Marxismo da Universidade Renmin, em
Pequim, identificou essas “tensões externas” como um dos principais
desafios para o PCC. “Isto tem impacto nos intercâmbios culturais, científicos ou tecnológicos”, notou.