Von der Leyen deplora egoísmos nacionais na resposta à crise na UE
Covid-19
26 de mar. de 2020, 11:23
— Lusa/AO Online
Numa intervenção no Parlamento Europeu – num
hemiciclo praticamente vazio, dado a grande maioria dos eurodeputados
seguirem a sessão plenária de hoje remotamente desde os seus
Estados-membros -, Ursula von der Leyen não poupou críticas à reação
inicial de muitos países face à chegada da pandemia ao solo europeu e
advertiu que os cidadãos e a própria História estão a “observar” o
comportamento dos líderes, que a seguir terão de decidir que União
querem, no pós-pandemia.Von der Leyen
começou por lembrar a forma súbita “como a vida mudou”, apontando que,
“num abrir e fechar de olhos, um vírus que surge no outro lado do mundo
torna-se uma pandemia mortífera com consequências trágicas, também na
Europa”.“De um dia para o outro, as nossas
formas de vida mudaram. As nossas ruas esvaziaram-se. As nossas portas
fecharam-se. E passámos da rotina quotidiana ao combate da nossa vida.
Durante este período, assistimos a uma tragédia no coração da Europa de
uma amplitude inimaginável há algumas semanas”, apontou.Insistindo
repetidamente que esta é uma crise perante a qual “apenas ajudando-nos
uns aos outros podemos ajudar-nos a nós próprios”, a presidente do
executivo comunitário notou então que, no entanto, “a história das
últimas semanas é parcialmente dolorosa de contar”.“Quando
a Europa realmente precisou que olhássemos uns pelos outros, muitos
inicialmente olharam apenas por si próprios. Quando a Europa realmente
precisou de um espírito ‘todos por um’, muitos inicialmente deram uma
resposta ‘apenas por mim’. E quando a Europa realmente precisou de
provar que esta não é uma ‘União para o bom tempo’, muitos inicialmente
recusaram-se a partilhar o seu guarda-chuva”, acusou.A
presidente da Comissão realçou que “uma crise sem fronteiras não pode
ser resolvida colocando barreiras”, mas, “ainda assim, esse foi
precisamente o primeiro reflexo que muitos países europeus tiveram”. “Isto
simplesmente não faz sentido, e contradiz fundamentalmente o espírito
europeu. A livre circulação de bens e serviços é o nosso ativo mais
forte e, muito francamente, o nosso único ativo para garantir que os
fornecimentos podem chegar aonde são mais necessários. Não faz sentido
que alguns países tenham decidido unilateralmente travar as exportações
para outros no mercado interno”, prosseguiu, acrescentando que “foi por
isso que a Comissão interveio quando alguns países bloquearam
exportações de equipamento de proteção para Itália”.Notando
que “não foi preciso muito tempo até que alguns sentissem as
consequências das suas próprias ações descoordenadas”, Von der Leyen
sublinhou que foi por isso que, infelizmente, a Comissão se viu forçada a
intervir.“Ao longo das últimas semanas
tomámos medidas excecionais e extraordinárias para coordenar e tornar
possível a ação que era necessária”, disse. “Desde
então, as coisas têm melhorado e os Estados-membros estão a começar a
ajudar-se uns aos outros, e a si próprios”, acrescentou, sem no entanto
baixar o tom das suas advertências. Segundo
Von der Leyen, quando “os pais e mães fundadores” do projeto europeu
partiram das cinzas da II Guerra Mundial para criar uma união de povos e
nações, “o seu objetivo era forjar uma aliança na qual a força mútua
nascia da confiança mútua”, e “hoje, face a um inimigo invisível, esses
valores fundamentais da União são postos à prova”.“Neste
momento, o nosso primeiro dever e prioridade é salvar vidas e proteger
os meios de subsistência dos europeus. Mas chegará o dia – espero que
num futuro não muito longínquo -, em que devemos olhar para o futuro e
moldar em conjunto a recuperação. Devemos retirar lições e decidir que
tipo de União Europeia queremos no futuro. Meus amigos, a História
observa-nos. Façamos juntos a boa escolha, com um grande coração, e não
com 27 pequenos”, concluiu.