Voluntárias brasileiras tomam vacina de Oxford como dever médico e para o bem comum
Covid-19
21 de jul. de 2020, 10:03
— Lusa/AO Online
Este estudo, juntamente com uma com uma outra vacina chinesa colocou o país na vanguarda da corrida pela imunização na pandemia.
Camila Rodrigues, médica e voluntária nos testes da vacina experimental
desenvolvida por cientistas de Oxford, no Reino Unido, numa parceria
com o laboratório Astrazeneca, contou à Lusa ser um dever seu como
médica participar do estudo."Acho que a
questão de ser voluntário em pesquisas é muito importante (...) Temos de
pensar como voluntários [em favor] da saúde pública. Me voluntariando e
a vacina sendo aprovada, milhões de pessoas, não só aqui no Brasil, mas
no mundo, com certeza vão ser beneficiadas", afirmou a médica.Camila
explicou que, para participar dos testes da vacina desenvolvida em
Oxford, teve de enviar os seus dados, depois foi convidada para uma
sessão de orientação onde recebeu todas as informações sobre o programa.
Na etapa seguinte, explicou a médica, fez
exames que comprovaram nunca ter sido infetada pelo novo coronavírus,
uma condição necessária para participar na pesquisa.Foi aprovada e tomou o imunizante na semana passada."Em
relação à vacina de covid-19 de Oxford é uma dose única, o vetor é um
adenovirus, e durante um ano participarei em seis consultas oficiais do
protocolo, a menos que eu tenha algum evento, um problema, efeito
colateral ou venha a desenvolver a covid-19", detalhou a voluntária.Na
segunda-feira, cientistas da Universidade de Oxford anunciaram na
revista médica The Lancet que a vacina em desenvolvimento, chamada
AZD1222, é segura e produziu resposta imune em ensaios clínicos. Os
resultados dizem respeito às fases 1 e 2 dos testes, que no Brasil
começaram a ser aplicados já na fase 3 de desenvolvimento do
medicamento. Outra das voluntárias que
integra o grupo de teste da vacina de Oxford, que envolve 50 mil
pessoas, incluindo 5 mil brasileiros, é a médica Nicole Inforsato.À
Lusa, Nicole contou que decidiu participar nos testes por considerar
que a Universidade de Oxford e o seu parceiro no Brasil, a Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp), têm ampla experiência em pesquisa de
vacinas e, portanto, confiava na segurança do medicamento. A
voluntária relatou algumas orientações antes de tomar a vacina, contou
não ter tido reações depois de ingerir o medicamento, acrescentando não
saber se tomou mesmo a vacina contra a covid-19 porque o estudo de
Oxford é um duplo cego e, portanto, alguns participantes tomaram, sem
saber, uma vacina contra a meningite."Medo
acredito que não [tive]. Como médicos sabemos que qualquer medicação
pode motivar alguma reação, incluindo vacinas já [testadas] há bastante
tempo no mercado. Cada corpo vai ter um tipo de resposta à medicação",
explicou Nicole. "A ansiedade para ter
logo a proteção própria e a vacina estar disponível para a população é
maior do que qualquer tipo de medo", acrescentou a voluntária.A
médica também disse ainda ter esperança de que os brasileiros estejam
entre os primeiros a obterem a vacina, dada a qualidade das pesquisas
que ocorrem no país.O Brasil é segundo
mais afetado pela pandemia, com mais de 80 mil óbitos confirmados e o
registo oficial de pelo menos 2,1 milhões de casos de covid-19.O país inicia na terça-feira os testes de uma vacina criada pelo laboratório chinês Sinovac, chamada de CoronaVac.Este
estudo realizado no Brasil, também na terceira fase de desenvolvimento
da pesquisa, é fruto de uma parceria entre o Instituto Butantan e
laboratório chinês Sinovac, assinada no mês passado, e que prevê, em
caso de sucesso do imunizante, a entrega de 120 milhões de doses capazes
de imunizar 60 milhões de pessoas a partir do final do ano.Numa
conferência de imprensa realizada na segunda-feira, o presidente do
Instituto Butantan, Dimas Covas, explicou que a pandemia revelou a
importância da conclusão dos estudos sobre vacinas e disse que o centro
de pesquisas terminará os estudos da CoronaVac mesmo que o medicamento
de Oxford apresente um resultado positivo mais cedo. "Nós
temos de completar o desenvolvimento desta vacina porque ela poderá ser
útil para esta epidemia e para outras epidemias que poderão vir. É
fundamental que completemos o ciclo de desenvolvimento e isto não tem
interferência de outras vacinas que podem ter eficiência no mercado",
declarou Covas.O presidente do Instituto
Butantan avaliou que o Brasil é um lugar ideal para testar vacinas
porque ainda não controlou a pandemia e tem grande experiência em
produção de imunizantes.Dimas Covas também
mencionou que a tecnologia usada na vacina chinesa é tradicional e, por
isto, é diferente da vacina de Oxford. "A
tecnologia da vacina que nós estamos desenvolvendo é uma tecnologia
tradicional, que já foi usada em outras vacinas aqui no Butantan (...) A
vacina de Oxford usa uma tecnologia nova, que não foi ainda utilizada
em outras vacinas e que poderá ser até uma evolução nas tecnologias de
produção de vacina, mas ela precisará ter, além da demonstração da
eficácia, precisará ter o seu processo produtivo validado por estes
estudos", afirmou.O diretor do Instituto
Butatan também estimou que os primeiros resultados da fase três de
testes da CoronaVac devem surgir em setembro e afirmou que em caso de
sucesso o país também deverá fabricar o medicamento.