"Vitória de PS sem maioria absoluta deixa tudo em aberto"
Açores/Eleições
26 de out. de 2020, 18:25
— Lusa/AO Online
“A grande expectativa social e
política é vermos como é que esta configuração, dadas estas novas forças
políticas, esta aritmética e estes novos pesos eleitorais de cada um
dos partidos, como é que isso se vai transformar em soluções
governativas, seja à esquerda, seja à direita”, afirmou Teresa Ruel,
investigadora e professora de ciência política do Instituto Superior de
Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa.Nas
eleições legislativas regionais dos Açores, que decorreram no domingo,
com 13 forças políticas candidatas aos 57 lugares da Assembleia
Legislativa Regional, o PS venceu, mas perdeu a maioria absoluta que
tinha no parlamento da região desde 2000.Em
declarações à agência Lusa, Teresa Ruel considerou que “é evidente” a
mudança na configuração do parlamento açoriano, destacando a perda de
mandatos por parte do PS, do CDS e do PCP-PEV, que perdeu representação
parlamentar, e o ganho de deputados eleitos por parte do PSD, do Chega,
do Iniciativa Liberal e do PAN.“Por esta
nova circunstância de o PS ter perdido a sua vantagem em termos
governativos, em termos de poder na região, vai acabar por ter de
negociar alguma estabilidade com os outros partidos, não sabemos bem
ainda onde e por que caminho essa negociação ou essa estabilidade vai
seguir”, explicou a investigadora e doutorada em Ciência Política.Teresa
Ruel reforçou que a governação nos Açores é “um cenário em aberto”, em
que se pode “equacionar a possibilidade da direita poder formar também
Governo e apresentar uma solução governativa distinta à existente”.“Apesar
de tudo, está tudo em aberto, independentemente de o PS ter ganho as
eleições, também já nos habituamos que não há formas governativas
estanques”, frisou.Sobre a entrada de
novas forças políticas no parlamento açoriano, designadamente o Chega, o
Iniciativa Liberal e o PAN, a professora de Ciência Política defendeu
que “é muito o resultado daquilo que é o funcionamento e os efeitos do
sistema eleitoral dos Açores, nomeadamente através do círculo de
compensação”.“O que é significativo é que
todos perderam votos e o que ganhou, recuperou votação, foi apenas o
PSD, à exceção do Chega, do Iniciativa Liberal e do PAN que ganharam
votos e ganharam representação, mas todos os partidos tradicionais e do
sistema até ao momento - BE, PCP, CDS e PS, todos perderam votos e
alguns deles perderam representação, no caso do CDS perdeu um deputado, o
PCP acabou por ver subtraída a representação existente”, sistematizou
Teresa Ruel.Sem fazer futurologia sobre
como será a mudança na configuração do parlamento açoriano, a professora
de Ciência Política defendeu que “o positivo é que foram eleitos
representantes que o povo assim considerou”.“É aquele que é o rescaldo das preferências eleitorais dos cidadãos e isso é positivo, a democracia é isso mesmo”, afirmou.“Do
ponto de vista do que será o exercício do cargo, teremos de esperar
para ver nos próximos quatro anos, temos a assunção que a legislatura é
de quatro anos, não sabemos se a legislatura será cumprida, não sabemos
ainda qual será o Governo que sairá destas eleições, sabemos apenas os
resultados ainda que provisórios de uma noite eleitoral”, apontou Teresa
Ruel.