De acordo com a maioria das sondagens, o
cenário mais provável para as eleições presidenciais dos EUA, em
novembro, é o de uma vitória do candidato do Partido Democrata, Joe
Biden, e a retenção do controlo do Senado por parte do Partido
Republicano.Para um painel de
especialistas de economia da empresa de investimento estratégico
Schroders, reunido num ‘webinar’ em que a Lusa participou, este cenário
causará maior instabilidade, o que os mercados geralmente temem, levando
a uma ligeira desvalorização do dólar e uma reação mais conservadora
dos mercados.Sean Markowicz, estratego
global da Schroders, disse que uma derrota do republicano Donald Trump
poderá ampliar ainda mais as quedas das bolsas de valores, já
debilitadas pelos efeitos da pandemia de covid-19.“O
aumento de impostos proposto por Joe Biden poderá provocar retração nas
empresas”, explicou o especialista da Schroders, embora alertando para o
facto de o candidato democrata poder representar maior estabilidade nos
mercados internacionais.“A vitória de
Biden, com a promessa de se manter firme com a China, mas também com a
promessa de recuperar as alianças com os aliados dos EUA, pode ter um
efeito positivo na economia mundial”, acrescentou Markowicz, recordando
ainda que se os republicanos continuarem a controlar o Senado, as
mexidas nos impostos prometidas pelo candidato democrata podem ficar
suspensas.O economista-chefe da Schroders,
Keith Wade, admitiu que a economia dos EUA poderá ter uma retoma mais
lenta do que a queda provocada pela pandemia, regressando à normalidade
num esquema em “U”, em vez de um esquema mais otimista em “V”, devido às
incertezas provocadas pela chegada de uma nova vacina, mas também pela
incógnita espoletada pela vitória de Biden.Wade
lembrou que esta será a primeira vez em que a economia norte-americana
sofre uma deflação dos serviços, em vez de uma deflação industrial, por
causa da pandemia, já que as pessoas terão alguma relutância em
regressar, em breve, a uma panóplia de serviços, ligados aos transportes
ou ao turismo.O economista-chefe disse
que o défice público dos EUA pode chegar perto dos 300%, por causa do
esforço dos cofres do Estado em socorrer a economia do impacto da
pandemia, e mostrou índices que mostram que setores como a hotelaria e a
restauração estão a estabilizar em níveis bem abaixo daqueles sentidos
nos últimos anos.Piya Sachdeva, economista
da empresa de investimento, referiu-se a estes índices para mostrar
como eles são adversos para as aspirações de Donald Trump conseguir um
segundo mandato presidencial, recordando que as estatísticas mostram que
as eleições nos EUA são, em grande parte, um referendo ao desempenho da
economia.A economista diz que os baixos
níveis de popularidade de Trump se devem à forma como o atual Presidente
dos Estados Unidos tem gerido a pandemia, mas também à avaliação que os
norte-americanos fazem da resposta à crise económica.“É
muito difícil um Presidente incumbente ganhar eleições no momento em
que o desemprego está em níveis muito elevados”, explicou Sachdeva,
mostrando como são os estados mais afetados economicamente aqueles que
estão a revelar intenções de voto mais favoráveis a Joe Biden.Contudo,
para os investidores, concordaram Wade e Markowicz, as promessas de
Biden em elevar os impostos, até 28% para as grandes empresas, e a
incerteza sobre a sua política económica são fatores de incerteza,
podendo atrasar ainda mais uma retoma, no final da pandemia.