Vítor Bento diz que não teria entrado no BES se tivesse mantido exigência de contas aprovadas

Novo Banco

23 de mar. de 2021, 17:05 — Lusa/AO Online

"Provavelmente se eu tenho mantido a exigência de só entrar depois das contas aprovadas, não teria chegado a entrar", disse hoje Vítor Bento na sua audição da comissão de inquérito ao Novo Banco, que decorre no parlamento, referindo-se às contas do BES do primeiro semestre de 2014, prejuízos de 3,6 mil milhões de euros.O economista disse que depois da resolução "o balanço fica um bocadinho indefinido", sendo encomendada uma auditoria à consultora PwC."Só no final dessa auditoria é que se ficaria a conhecer verdadeiramente a valorização dos ativos que constavam do balanço. Até aí era um bocadinho uma situação, se me permite a expressão, de limbo quanto a essa valorização", respondeu à deputada Cecília Meireles (CDS-PP).Vítor Bento lembrou que essa auditoria só foi conhecida em dezembro, já depois da sua saída, e já antes das contas terem sido apresentadas no final de julho, mês que "entre outras coisas trouxe uma desvalorização assinalável na participação na PT", de 106 milhões de euros, segundo a deputada centrista."Depois, o impacto das exposições indiretas, papel comercial, obrigações, etc... ainda não estavam devidamente clarificadas" relativamente ao seu impacto total, segundo Vítor Bento.Anteriormente na audição, Vítor Bento já tinha dito que o capital inicial dotado para o Novo Banco [4,9 mil milhões de euros] "estava demasiado à pele" em termos do cumprimento dos rácios prudenciais."O facto de ter um capital demasiado à pele era negativo, por um lado, para o 'rating do banco, e sendo negativo para o 'rating do banco tinha uma influência negativa na avaliação que as contrapartes faziam da própria atividade do banco, e do risco que o banco representava para essas contrapartes", nomeadamente em linhas de crédito do mercado, "essenciais para a normalização" da instituição, segundo o antigo responsável."A primeira sensação que tive quando me foi colocada a resolução, e nos termos em que foi colcoada, é que o banco bom seria um banco normal, que seria gerido, recuperado e dentro dessa recuperação tentar fazer a sua valorização", tendo percebido no dia seguinte "que o cenário não era esse" no quadro da resolução.Vítor Bento disse ainda que o interlocutor principal no Banco de Portugal foi o governador Carlos Costa, mas não nas semanas seguintes à resolução (03 de agosto)."Nas primeiras semanas após a resolução tivemos muito pouco contacto direto com o senhor governador, porque ele entretanto tinha ido de férias, o que era compreensível, tinha tido um período muito desgastante para ele, portanto só voltámos ao contacto com o senhor governador no dia 20 de agosto", referiu.