Vítimas de tráfico humano vão passar a ter acesso à saúde e ensino do português
18 de out. de 2024, 11:13
— Lusa/AO Online
Em declarações à Lusa no Dia
Europeu de Luta Contra o Tráfico de Seres Humanos, a ministra da
Juventude e da Modernização, Margarida Balseiro Lopes, explicou que o
novo Plano de Ação para a Prevenção e Combate ao Tráfico de Seres
Humanos visa responder às necessidades das vítimas, mas também resolver o
incumprimento do país, nas instâncias internacionais, já que o último
documento do género data de 2021.Em
Portugal, o tráfico de seres humanos é um “fenómeno que tem tido um
crescimento ao longo dos últimos anos: nós tivemos em 2023 face a 2022,
um acréscimo em 72% do número de sinalizações, mais 272 registos”,
enumerou a governante.Do novo plano, a
ministra destacou o ensino do idioma, para “garantir o acesso das
vítimas de tráfico de seres humanos ao português, língua de
acolhimento”.“Esta é uma medida que se
insere num objetivo estratégico que é assegurar às vítimas de tráfico o
melhor acesso aos seus direitos”, explicou a governante.Outra
medida prevista é o acesso à saúde por parte das vítimas e será
garantido “o acesso ao número de utente de saúde na hora e de forma
direta para as vítimas de tráfico de seres humanos, mesmo que
indocumentadas”.Esta questão tem sido uma
das reivindicações das associações que operam no setor e “nós precisamos
de garantir que estas vítimas não ficam privadas do acesso à realização
de exames, de análises”, porque quando “são retiradas destas redes,
muitas delas apresentam, de facto, uma grande necessidade de acesso a
cuidados de saúde”.O plano prevê ainda “a
criação de um regime jurídico aplicável à proteção e à assistência das
vítimas de tráfico de seres humanos”, que “vai permitir uma intervenção
mais integrada entre forças de segurança, equipas multidisciplinares
especializadas e as estruturas de acolhimento”.O
plano irá “enquadrar juridicamente a atividade destas equipas
multidisciplinares especializadas” no apoio às vítimas, algo que hoje
não sucede, explicou Balseiro Lopes.Em
Portugal, “temos cinco redes regionais de apoio e proteção às vítimas de
tráfico e o que estas equipas fazem é que dão assistência a presumíveis
vítimas de tráfico, têm linhas telefónicas de apoio e dão apoio técnico
nos processos de sinalização, numa estreita articulação com as nossas
forças de segurança”.Cabe a estas redes
dar apoio para que as vítimas “se consigam integrar, depois de serem
acolhidas, no mercado de trabalho”, disse a ministra, salientando que o
novo regime jurídico irá também estabelecer “critérios de elegibilidade
para assistência judiciária” ou dar apoio no “acesso à habitação, que é
um tema crítico”.Este plano, que abrange
os anos de 2025 a 2027, irá a Conselho de Ministros, terá uma fase de
consulta pública, seguindo-se a publicação ainda este ano, disse a
ministra à Lusa.Margarida Balseiro Lopes
disse que o grande objetivo do documento é assegurar “um maior
conhecimento e sensibilização sobre esta temática do tráfico de seres
humanos na sociedade em geral”, mas também em públicos específicos como
os profissionais de saúde ou as forças de segurança.“Muitas
destas vítimas, de facto estão muito vulneráveis, estão muito
desprotegidas e nós precisamos de as apoiar”, resumiu a governante.Os anteriores planos de ação estiveram em vigor entre 2007 e 2021.Segundo
o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), as situações de tráfico
de seres humanos sinalizadas estão relacionadas com exploração laboral
em setores como a silvicultura, pesca marítima e futebol.Em
2023, as autoridades policiais registaram 92 crimes de tráfico de
pessoas, representando um aumento de três crimes face a 2022 com 89
crimes registados.No mesmo ano, o
Observatório do Tráfico de Seres Humanos rececionou 650 sinalizações em
Portugal e as estatísticas mais recentes a nível europeu indicam que as
crianças constituem 22% de todas as vítimas registadas pelos 27
estados-membros.Em Portugal, foram
sinalizadas 57 crianças, a maioria oriunda de países terceiros, com
destaque para nacionais de países da América Central e América do Sul.