Virus como o da gripe podem propagar-se pelo ar através de poeiras e partículas
18 de ago. de 2020, 09:35
— Lusa/AO Online
“É realmente chocante para a maioria dos
virologistas e epidemiologistas que partículas de pó transmitidas pelo
ar, ao invés de gotículas de respiração, possam transportar o vírus
'influenza' com capacidade para infetar animais”, disse, citado em
comunicado, o professor William Ristenpart, da Universidade da
Califórnia, um dos investigadores que liderou o estudo da Universidade
da Califórnia e da faculdade de Medicina Icahn School of Medicine do
Hospital de Monte Sinai hoje publicado no boletim científico ‘Nature
Communications’. “A suposição implícita é
sempre que a transmissão por via aérea ocorre com base em gotículas
respiratórias emitidas pela tosse, espirros ou a falar. A transmissão
por via de poeiras abre uma série de novas áreas de investigação e tem
profundas implicações na forma como interpretamos as experiências
laboratoriais, assim como na investigação epidemiológica de epidemias”,
disse.Acredita-se que o vírus da gripe se
propague por vários meios diferentes, como gotículas exaladas do trato
respiratório, ou através de objetos secundários onde se possa alojar
como maçanetas ou lenços usados. Estes objetos secundários são
denominados 'fómites'. Ainda se sabe pouco sobre qual das vias possa ser
a mais importante e a resposta pode ser diferente para diferentes
estirpes do vírus influenza ou outros vírus respiratórios, incluindo
coronavírus, como o novo SARS-CoV2, que provoca a doença covid-19. No
novo estudo, Ristenpart e a estudante de engenharia Sima Asadi,
Universidade da Califórnia, juntaram-se a um grupo de virologistas
liderado por Nicole Bouvier, no hospital Monte Sinai, para perceber de
que forma partículas minúsculas e de origem não respiratória a que
chamaram “fómites aerossolizados” podem transportar influenza entre
porquinhos da Índia.Com um recurso a um
medidor de partículas automatizado para contar partículas transmitidas
pelo ar, concluíram que porquinhos da Índia não infetados emitiam picos
de até mil partículas,de pó por exemplo, por segundo enquanto se moviam
na gaiola. As partículas emitidas pela respiração dos animais permaneceu
a uma taxa constante muito mais baixa.Porquinhos
da Índia imunizados e com o vírus influenza espalhado no pelo podiam
transmitir o vírus através do ar para outros porquinhos da Índia
suscetíveis à infeção, demonstrando que o vírus não precisava de ter
origem direta no trato respiratório para ser infeccioso.Os
investigadores testaram ainda se fibras microscópicas de um objeto
podiam transportar vírus infecciosos. Aplicaram em lenços de papel
faciais o vírus influenza, deixaram secar, e depois amassaram-nos em
frente ao medidor de partículas automatizado. Amassar os lenços libertou
até 900 partículas por segundo numa área suficientemente vasta para
permitir a sua inalação.Os investigadores
conseguiram também infetar células com as partículas libertadas pelos
lenços de papel contaminados com o vírus.