Violência sobre idosos registada em linha SOS teve um aumento de 20% em 2018
15 de mai. de 2019, 08:53
— Lusa/AO Online
Dados
da Fundação Bissaya Barreto, que opera aquela linha de apoio de âmbito
nacional, em 2018 registaram-se 317 pedidos de ajuda/contactos e 280
processos internos, tendo sido efetuadas 489 articulações interserviços,
o que representa um aumento de cerca de 20%, comparativamente ao ano
anterior. Entre 2015 e 2018, o número de
pedidos de ajuda duplicou e os processos quadruplicaram, indicam os
dados conhecidos no Dia Mundial da Família. Na
sua maioria (66%), as vítimas são mulheres e quase metade da amostra
(47%) corresponde a pessoas em situações de viuvez e a média de idades é
de 79 anos.Do total de vítimas registadas, 39% vivem sozinhas, 21% residem com os filhos, 14% com o cônjuge e 9% em instituições.Segundo os dados, os casais são vítimas em conjunto em 10% das situações. A
auto negligência teve lugar em 10% dos casos, correspondendo à adoção
de comportamentos por parte dos idosos acompanhados que ameaçam a sua
própria saúde ou segurança.“Em Portugal,
um dos fatores que pode contribuir para aumentar a vulnerabilidade da
população idosa face às situações de violência é o facto de este ser um
dos países da Europa onde existe uma maior proporção de pessoas com 75 e
mais anos, a coabitar ou ao cuidado de familiares diretos, por
afinidade, ou por pessoas sem laço familiar”, refere a fundação. Nas
denúncias efetuadas ao serviço SOS Pessoa Idosa, no ano de 2018 cerca
de 70% dos agressores estão identificados como familiares, “pelo que se
pode inferir que a relação entre a vítima e o agressor é, na maior parte
dos casos, de parentesco. Cerca de 50% dos agressores são filhos das
vítimas. O género é primeiro dado
relevante em relação à caracterização do presumível agressor: 46% dos
agressores são homens. Relativamente ao estado civil do agressor, 26%
dos identificados são solteiros, com idade média de 50 anos. O
denunciante corresponde a toda e qualquer pessoa que contacta o
serviço, a fim de responsabilizar alguém por um crime ou relatar a
situação de violência sentida pela vítima e/ou testemunhada por
terceiros. Pode ou não identificar-se, o que não permite, por vezes,
traçar o perfil de quem realiza a denúncia, mas os dados recolhidos
indicam que a maior percentagem corresponde a pessoas do sexo feminino
(62%) e são na sua maioria, vizinhos e amigos. Os
familiares denunciam cerca de 29% dos casos, em particular filhos que
denunciam irmãos, outros familiares, vizinhos ou profissionais. “Estes
resultados levam a crer que a proximidade com o contexto onde ocorre a
violência, ou a afinidade com a vítima, é preponderante para a
sinalização de situações que necessitam de proteção e intervenção. Em
16% dos casos é a própria vítima que denuncia a situação”, refere a
Fundação Bissaya Barreto. A
Procuradoria-Geral Distrital de Coimbra (Ministério Público), foi
responsável por 15% das sinalizações realizadas ao Serviço SOS Pessoa
Idosa. No Alentejo e no norte do país, com
mais casos de isolamento e com menor densidade populacional,
verifica-se um aumento considerável do número de denúncias e de
situações de violência sinalizadas em comparação com os dados dos anos
anteriores, segundo os dados divulgados. Como
formas de violência mais frequentes, de acordo com a identificação
realizada pelo SOS Pessoa Idosa, surgem agregadas a violência
psicológica e a violência física (17%), o abuso financeiro e a violência
psicológica (16%) e a negligência e abandono (15%). O
distrito com mais pedidos de ajuda e denúncias é o de Lisboa, com 24%,
seguido de Coimbra, com 21%, de Setúbal, com 14% e do Porto, com 9%. Para
a responsável pelo Serviço, Marta Ferreira, “o lugar de honra e a
dignidade que as pessoas idosas de tempos anteriores tinham como
garantidos, encontram-se atualmente comprometidos”, sublinhando que “as
gerações familiares mais jovens, hoje em dia, assumem direito sobre o
destino dos mais velhos, sem considerar a opinião e vontade que têm
sobre a sua própria vida”.