Violência de género é "um problema grave e transversal"
20 de nov. de 2018, 11:17
— Lusa/AO Online
"A
violência de género persiste, infelizmente, nas nossas sociedades",
lamentou Francisca Van Dunem, sublinhando que o "problema" exige "uma
intervenção coletiva". Elogiando
o trabalho da Associação Portuguesa de Mulheres Juristas (APMJ), que
organiza a cimeira internacional que hoje começou e se prolonga até
quinta-feira, que junta quase uma centena de oradoras de 25 países
diferentes, a ministra da Justiça recordou "a perseverança de mulheres
que ousaram enfrentar sociedades moldadas à medida dos homens",
mencionando o exemplo de Carolina Beatriz Angelo, médica pioneira dos
direitos das mulheres portuguesas ao reivindicar o direito ao voto
enquanto chefe de família. A
"real obtenção da igualdade de estatuto entre mulheres e homens" ainda
"tem pela frente um longo curso", que "exige resiliência e compromisso",
reconheceu Francisca Van Dunem. "Os
direitos não podem ser discriminatórios, não pode haver um universo de
pessoas que continua a ser discriminado", frisou, destacando a
"fragilidade e diferenciação dos direitos das mulheres" que se manifesta
hoje "sobretudo em cenários de conflitos armados e civis".Na
mesma sessão de abertura, a secretária de Estado para a Igualdade, Rosa
Monteiro, deixou um apelo às conferencistas, na maioria juristas, que
se vão reunir durante três dias em Lisboa: "Pensarmos e repensarmos o
Direito enquanto instrumento que encerra, em si mesmo, tanto a
capacidade de reproduzir o poder como de potenciar a transformação."Para
Rosa Monteiro, "não basta alargar os mesmos direitos às mulheres e
tratá-las de forma igual aos homens, é preciso aplicar cada direito
percebendo e respondendo à desvantagem que surge do facto de se ser
mulher".A
secretária de Estado destacou a "particular desvantagem" das mulheres
"que lhes advém do facto de gastarem cerca de uma hora e 40 minutos por
dia a mais no trabalho doméstico e de cuidado e do facto de apenas 34%
dos homens partilharem a licença parental".As
políticas públicas não podem "continuar a exigir que, para acederem aos
mesmos direitos, as mulheres tenham que demonstrar que estão numa
situação comparável à dos homens", sustentou. "Não esqueçamos que os
direitos não são neutros e que assentam nos modelos assumidos como
normais por quem os define, interpreta e aplica diariamente",
justificou. Ou
seja, especificou, há que "garantir que a concretização de cada direito
reconhece a especificidade das desvantagens sofridas e que podem
resultar da interseção do sexo com vários outros fatores, como a origem
racial e étnica, a idade e a deficiência".