Vigília em Lisboa assinala Dia Internacional da Memória Trans
21 de nov. de 2023, 11:22
— Lusa/AO Online
A
vigília, que teve início ao final da tarde no Jardim do Cerco da Graça
em Lisboa, reuniu membros de várias organizações de defesa dos direitos
'trans' e apoiantes da causa, tendo como objetivo consciencializar o
público sobre a violência e os problemas que esta comunidade enfrenta.No
decorrer da vigília os participantes colocaram velas em redor de um
memorial onde constavam os nomes das vítimas de violência transfóbica no
último ano, havendo também cartazes no chão, onde se podiam ler
mensagens como “A nossa existência tornou-se política”.“Estamos
aqui hoje para celebrar o dia da Memória Trans e para relembrar as
pessoas que sofreram mortes violentas por transfobia este ano, para
tentar promover um sentido de comunidade e de cura, porque precisamos de
ultrapassar estas violências”, disse uma das diretoras da Associação
Clube Safo, Joana Isabel, em declarações à agência Lusa.A
representante da única associação exclusivamente de direitos de pessoas
lésbicas em Portugal lamentou a falta de empatia e tolerância face à
comunidade LGBTQ+ e as tendências de violência crescentes, inclusive em
Portugal.“Em Portugal muito recentemente
com a situação da Miss Portugal, mais violências foram reportadas, mesmo
a nível da comunicação social, sem a menor consciência do impacto que
isso tem nas pessoas 'trans', nas suas famílias e nas suas redes de
afetos”, salientou Joana Isabel.Uma das
participantes da vigília e membro da comunidade 'trans', Ângela Sampaio,
reiterou alguns dos problemas apontados pela diretora do Clube Safo.“Esta
vigília é importante, principalmente nos dias de hoje que estamos a
sofrer ataques de tantos lados. Ainda não conseguimos trabalho, ainda há
pessoas a morrer e ainda há muita coisa a ser feita”, disse. Ângela Sampaio apelou para a igualdade de tratamento das pessoas transexuais e apresentou prioridades.“Primeiro que tudo que parem de nos matar, segundo que sejamos todos iguais e que parem de nos subclassificar”, afirmou.Segundo
a organização não-governamental Transgender Europe, a realidade
europeia demonstra tendências alarmantes de transfobia, discriminação,
racismo, misoginia e xenofobia, com 321 pessoas assassinadas em casos de
ódio transfóbico no último ano.Do número
total de vítimas mortais entre 2022 e 2023, 94% eram mulheres
transexuais, 48% trabalhadoras do sexo e 45% pertenciam eram migrantes
ou refugiados.A América Latina e as
Caraíbas registaram o maior número de homicídios de pessoas 'trans' do
mundo, tendo quase um terço ocorrido no Brasil (31%), com a Arménia, a
Bélgica e a Eslováquia a registarem pela primeira vez vítimas deste tipo
de violência.Questionada sobre como
colmatar os problemas existentes na comunidade 'trans', Joana Isabel
disse que “a mudança passa por ouvir sem preconceito e sem julgamento”.“Todas
as pessoas parecem ter uma opinião sobre aquilo que não sabem, não
vivem e não experienciam e ninguém nos pergunta a nós, as pessoas que
vivem isto todos os dias o que nós pensamos, achamos, sentimos e
experienciamos”, concluiu.