Vice-presidente do Chega/Açores demite-se em rota de colisão com Ventura
Açores/Eleições
2 de nov. de 2020, 15:02
— Lusa/AO Online
O
também cabeça de lista do Chega pela ilha Terceira nas eleições de 25 de
outubro revelou na sua página do Facebook que enviou uma carta ao líder
regional do partido, Carlos Furtado, lembrando que recomendou que na
noite eleitoral André Ventura “fosse afastado da comunicação social”,
devendo ser o presidente regional a assumir a comunicação à imprensa.“Por
ser esta a sua e nossa vitória e por ser seu dever e responsabilidade
conduzir o Chega regional pelo difícil mas desafiante caminho de
assegurar, mediante cuidada negociação com os parceiros políticos à
direita, uma alternativa de governação”, sublinha o dirigente
demissionário, numa carta na qual explica os vários motivos da sua
demissão.Orlando Lima considera que “este
era um cenário político previsto, sobre o qual o presidente regional,
Carlos Furtado, já se havia manifestado ao eleitorado, que já tinha sido
discutido pela sua direção”.Na altura, o
dirigente diz que defendeu a “não participação em soluções governativas
como por ele [Carlos Furtado] inicialmente apontado, mas sim de
incidência parlamentar”.“Esta foi uma
promessa eleitoral e uma solicitação diária do nosso eleitorado. O PS,
na governação com os 300 milhões da Europa, faz uma festa, deixa-nos a
todos na miséria, mas compra votos para mais oito anos. Negar uma
alternativa de direita na governação regional será traição. Este seria o
papel de outro, nunca do Chega”, declara o dirigente.Para
Orlando Lima, André Ventura fez um “eloquente discurso de vitória,
assumiu uma lamentável postura centralista e, descurando os interesses
dos açorianos, extrapolou as decisões que deveriam ser locais, para a
defesa infantil de interesses dos ‘cheganos’ nacionais, que por muito
legítimos e necessários que o são, o povo açoriano não tem para com eles
a mais pequena identificação”.“A
governação açoriana faz-se para a defesa do povo açoriano, não para
resolver as questiúnculas dos senhores de Lisboa nem para ganhar uns
pontos junto do eleitorado continental. Tal significa para mim uma
atitude no mínimo centralista que em nada dignifica o imperioso respeito
pelo povo açoriano e pela autonomia da Região Autónoma dos Açores”,
declarou.Na noite eleitoral, André Ventura
rejeitou qualquer acordo de coligação que permita à direita governar os
Açores e acusou o PSD de se ter afastado do Chega.Na
carta dirigida ao líder regional do Chega, Orlando Lima refere, por
outro lado, que os “critérios de seleção dos elementos constantes da
lista de compensação” foram, apesar da sua contestação interna, "o de um
clube de amigos, não de um partido político, com responsabilidade de
correção e equidade perante o seu eleitorado”.O
critério que recomendou o demissionário do Chega/Açores “foi o de o
cabeça de lista de São Miguel ser o primeiro da compensação, o cabeça de
lista da Terceira ser segundo da compensação e sucessivamente, tendo
por base a representatividade eleitoral de cada uma das ilhas”.Segundo
o vice-presidente demissionário, o deputado eleito José Pacheco “não
foi votado nem eleito por ninguém, a não ser pela direção regional do
partido, que anuiu a seu favor”.O Conselho
Regional do PSD/Açores mandatou no sábado o presidente do partido na
região, José Manuel Bolieiro, para "negociar" com o CDS-PP e o PPM,
indicou fonte da estrutura social-democrata açoriana.Mesmo
sem concretizar o teor das negociações, é sabido que o PSD está à
procura de parceiros para constituir um governo na região, apesar de o
PS ter vencido - em minoria relativa - o sufrágio de dia 25.O
PS venceu as eleições regionais nos Açores, elegendo 25 dos 57
deputados da Assembleia Legislativa Regional, mas um bloco de direita,
numa eventual aliança (no executivo ou com acordos parlamentares) entre
PSD, CDS-PP, Chega, PPM e Iniciativa Liberal poderá funcionar como
alternativa de governação na região, visto que uma junção de todos os
parlamentares eleitos por estes partidos dar 29 deputados (o necessário
para a maioria absoluta).O PAN, que também elegeu um deputado, pode também viabilizar parlamentarmente um eventual governo mais à direita.Diversas
fontes contactadas pela Lusa reconhecem a existência de conversações
entre o PSD e outros partidos com vista a uma eventual viabilização de
um executivo de direita.A lei indica que o
representante da República nomeará o novo presidente do Governo
Regional "ouvidos os partidos políticos" representados no novo
parlamento açoriano.Segundo indicação dada
à Lusa por fonte do gabinete do representante da República, Pedro
Catarino só poderá ouvir os representantes dos partidos políticos
eleitos no domingo uma vez publicados os resultados oficiais em Diário
da República, o que ainda poderá demorar alguns dias.Depois
da tomada de posse do próximo Governo dos Açores, haverá um prazo
máximo de 10 dias para o programa do executivo ser entregue à Assembleia
Legislativa.