“Vice” do Chega-Açores demite-se, Ventura quer manter negociação com PSD
Açores/Eleições
2 de nov. de 2020, 15:30
— Lusa/AO Online
A
carta de demissão, a que a Lusa teve acesso, está datada 28 de outubro e
dirigida ao presidente do Chega, Carlos Augusto Furtado, intitula-se
“Chega é o ‘Reino dos Céus’ ou coisa nenhuma” e critica abertamente a
postura do líder nacional, André Ventura.“É
com enorme pesar que me afasto do Chega, a quem entreguei a minha
dedicação incondicional e a minha esperança na transformação da
sociedade açoriana que tanto necessita de uma voz reformista, na luta
pela justiça social, pela democracia que cá não existe”, lê-se.Para
Orlando Lima, o Chega devia enveredar pelo “difícil mas desafiante
caminho de assegurar, mediante cuidada negociação com os parceiros
políticos à direita, uma alternativa de governação”, pois “negar uma
alternativa de direita na governação regional será traição” e “este
seria o papel de outro, nunca do Chega”.“Como não sou gaja de ninguém, não dou para este Carnaval”, escreveu o ex-dirigente do partido nacional populista Chega.“Lamentável
postura centralista”, “defesa infantil dos interesses dos ‘cheganos’
nacionais” e “incongruências de discurso”, são as acusações de Orlando
Lima a Ventura.Segundo a direção nacional
do Chega, aquele elemento, candidato a deputado regional pela Ilha
Terceira, “quer é viabilização [do Governo Regional] sem reivindicações
nacionais”."Lamento a demissão, mas tenho
dito e repetido até à exaustão que não podemos ter dois ou três Chegas
diferentes. Há um Chega. Não podemos ceder nas nossas convicções, mesmo a
nível local ou regional. Esperamos resposta do PSD às nossas
exigências. Continuamos a falar com o PSD, mas não integraremos o
Governo dos Açores”, disse Ventura à Lusa.O
líder nacional do Chega terá imposto quatro condições para a
viabilização de um Governo Regional açoriano liderado pelo PSD, um dos
quais a participação social-democrata no processo de revisão
constitucional, que prevê a prisão perpetua ou a castração química de
pedófilos, por exemplo."As informações que
eu tenho relativamente aos Açores - o partido tem autonomia - é que se
está a tratar de reeditar a Aliança Democrática do tempo do dr. Sá
Careiro. Uma coligação entre PSD, CDS-PP e PPM. Faltam só os
reformadores, que era um grupo individual", afirmou hoje Rui Rio.O
PS venceu as eleições regionais nos Açores de há uma semana, elegendo
25 deputados para a Assembleia Legislativa Regional, mas um bloco de
direita, numa eventual coligação (integrando o executivo ou com acordos
de incidência parlamentar) entre PSD, CDS-PP, Chega, PPM e Iniciativa
Liberal poderá funcionar como alternativa de governação (maioria
absoluta de 29 parlamentares).O PAN, que
também elegeu um deputado, pode igualmente vir a viabilizar um outro
executivo que não do PS, partido que governa o arquipélago desde 1996.