Ventura manda “trabalhar” ciganos e antifascistas

Presidenciais

10 de jan. de 2021, 20:37 — AO Online/ Lusa

“Vão trabalhar, trabalhar!”, limitou-se a gritar André Ventura, em direção aos manifestantes, a maioria de etnia cigana e com cartazes antifascistas, ladeado por seguranças e com meia-hora de atraso face ao previsto.“Beja foi [o distrito] escolhido para ser o início da caminhada presidencial pela razão que temos insistido: há um país em que metade trabalha para outros não fazerem nada”, afirmou, lamentando “privilégios e regalias injustificados nos últimos 45 anos”.O líder do recém-criado partido da extrema-direita parlamentar classificou a sua corrida ao Palácio de Belém como “a maior ameaça ao sistema”.“Não são ‘Grândolas’ cantadas lá fora por subsidiodependentes que nos vão fazer parar esta marcha. Perderam os debates todos e agora querem ganhar na rua”, continuou, referindo-se ao espetro político da esquerda, citando “comunistas e socialistas”.Ventura não poupou críticas ao atual chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, “que andou com o Governo ao colo”, e ao primeiro-ministro e líder do PS, pela falta de medidas de “apoio a quem precisa neste contexto de pandemia” e de grave crise económica.“Estamos fartos de ser sempre os mesmos a pagar e a trabalhar”, dramatizou, sugerindo que muitos dos manifestantes tinham chegado à porta do Cineteatro de Serpa “de “Mercedes e BMW ou em carrinhas do PCP”.O deputado único condenou ainda a criação pelo Governo de um grupo de trabalho de combate ao racismo e a nomeação para o mesmo do ex-militante do BE Mamadou Ba.Para Ventura, se se confirmar a hipótese de a candidata bloquista Marisa Matias desistir em favor da concorrente socialista Ana Gomes: “isso já será uma vitória porque destruímos a esquerda.A meio do discurso do candidato a chefe de Estado, a cortina da boca de cena do anfiteatro serpense abriu-se e foi visível um esqueleto atrás de Ventura, naquilo que pareceu uma partida ao político, que não ligou e prosseguiu. Fonte oficial da candidatura disse à agência Lusa que tinha sido "um boicote", uma vez que o espaço cultural é gerido pela autarquia, liderada pela CDU (PCP e "Os Verdes").Antes, o mandatário nacional do presidente do Chega, Rui Paulo Sousa, admitira “reduzir a campanha ao mínimo possível, mas estando presente em todo o lado”, em virtude do agravamento da pandemia de covid-19.Na rua, continuaram mais de 50 pessoas em protesto contra Ventura, com cartazes e palavras de ordem como “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais” e buzinadelas.“Alentejo, terra da Liberdade”, “Não queremos RSI (Rendimento Social de Inserção), mas trabalho”, “Facho!” ou “Zeca, obrigaram-me a vir para a rua” foram algumas das inscrições nas tarjas e cartazes improvisados, vigiados por perto de duas dezenas de elementos da Guarda Nacional Republicana.