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Venezuela
Maduro aproveita boicote e alcança maioria esmagadora no Parlamento e regiões

O Presidente venezuelano aproveitou o boicote da oposição nas eleições legislativas e regionais e cobriu a vermelho, cor do chavismo, o mapa da Venezuela, alcançando ainda 256 dos 285 lugares parlamentares, anunciou o presidente da Assembleia Nacional


Autor: Lusa/AO Online

O partido do Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, venceu 23 dos 24 cargos de governador e, de acordo com um anúncio não oficial de Jorge Rodriguez, um dos homens mais poderosos do país, a coligação vai ocupar 256 dos 285 lugares no Parlamento.

Presidente da Assembleia, chefe da campanha eleitoral do Governo e principal negociador da Venezuela com Washington, Rodríguez sublinhou, ao fim da tarde (noite em Lisboa) de segunda-feira, que “a oposição” venceu os restantes 29 lugares, sem fornecer mais detalhes.

"O chavismo ganhou 256 deputados num total de 285, ou seja, 90% dos deputados na Assembleia Nacional são do Gran Polo Patriotico Simon Bolivar", acrescentou Rodríguez no programa televisivo Con Maduro+.

A líder da oposição, Maria Corina Machado, e Edmundo González, candidato da oposição nas eleições presidenciais do ano passado, tinham apelado ao boicote do escrutínio, considerando que as regras do jogo foram distorcidas.

Com esta vitória esmagadora, Maduro reforçou o controlo sobre as instituições do país, dez meses após a contestada reeleição como Presidente, marcada por distúrbios e detenções em larga escala.

As eleições de domingo ficaram também marcadas pela detenção de cerca de 70 pessoas, incluindo Juan Pablo Guanipa, da oposição, acusado de tentar desestabilizar a votação.

Mais de 400.000 membros das forças de segurança foram destacados para as eleições, com patrulhas de polícias encapuzados e armados.

Maduro pode agora avançar tranquilamente com a reforma da Constituição, sobre a qual há poucas informações, mas da qual tem falado frequentemente nos últimos meses.

"Hoje demonstrámos o poder do chavismo! Esta vitória é a vitória da paz e da estabilidade", exultou Maduro após o anúncio dos resultados no domingo.

Maria Corina Machado tinha apelado à população para que não participasse nas eleições, considerando-as uma farsa e afirmando que a fraca afluência às assembleias de voto seria um protesto silencioso contra a reeleição de Maduro como Presidente em julho passado.

Para o grupo da oposição que participou no escrutínio, o resultado foi pouco substancial. O Governo deixou-lhe apenas migalhas: um punhado de deputados e o Governo do estado de Cojedes (centro-oeste).

“Apesar de previsível, o resultado tem implicações importantes: o chavismo reforçado no seu controlo institucional, uma oposição dividida e com representação limitada e uma maioria social [da população] desmobilizada”, considera o analista político Luis Vicente Leon.

Maria Corina Machado, que vive na clandestinidade, voltou a apelar, na segunda-feira, ao exército para que atue contra um Governo considerado ilegítimo. Mas as forças armadas, pedra angular do Executivo, têm jurado repetidamente lealdade a Maduro.

Quanto à oposição, “a abstenção (...) só piora a sua situação”, avalia o politólogo Pablo Quintero. “Gera um processo de desinteresse político, desilusão e resignação por parte do povo”.

Henrique Capriles foi eleito deputado e vai liderar um grupo de cerca de quinze membros eleitos na Assembleia, de acordo com as estimativas de Leon. Um número reduzido, mas "não insignificante", avalia o analista.

"Atingiram parcialmente o objetivo de manter uma presença institucional e evitar o desaparecimento total", sublinha.

Stalin Gonzalez, na oposição e eleito deputado, defendeu a participação e criticou a posição de Machado: "Essa teoria de dar espaço ao Governo, ao ‘madurismo’, e acreditar que basta deslegitimar o processo não participando para que ele [Maduro] vá embora... Que esse é o caminho para trazer a democracia de volta. Não estamos convencidos desse caminho".

Quintero acredita que o custo é elevado e que "a oposição precisa de sangue novo".