Valor da solidariedade deve ser o fundamento da UE
UE/Presidência
18 de jun. de 2021, 10:37
— Lusa/AO Online
O
primeiro-ministro falava na cerimónia de encerramento do ano académico
2020-21 do Colégio da Europa, que teve como ‘patrono’ o antigo chefe de
Estado e de Governo português Mário Soares, na cidade belga de Bruges,
onde deixou “uma reflexão sobre o futuro da Europa”. “A
pandemia tornou evidente o valor da solidariedade. Desde o início,
[houve] solidariedade na partilha das vacinas para garantir o acesso de
todos os europeus à vacinação, mas também [houve] solidariedade com
todos os povos do mundo: a Europa é a única região democrática do mundo
que nunca deixou de exportar vacinas. (…) O valor da solidariedade que a
crise pôs em evidência deve ser o fundamento da nossa União”, afirmou
António Costa. Num discurso que serviu de
“reflexão sobre o futuro da Europa” e de balanço da atual presidência
portuguesa do Conselho da UE – que termina a 30 de junho –, o
primeiro-ministro começou por referir que a visão de Mário Soares
“inspirou as três prioridades principais” do semestre português. Destacando
a “urgência da recuperação socioeconómica após a crise mais vasta e
mais grave que a Europa conheceu desde a Segunda Guerra Mundial”,
António Costa salientou que o primeiro objetivo do semestre português
foi permitir “reencontrar a prosperidade através de uma recuperação
centrada na dupla transição ‘verde’ e digital”. “Face
à crise pandémica, muitos interrogaram-se sobre como é que a Europa
iria reagir a um choque externo e simétrico desta magnitude, com
consequências socioeconómicas enormes, estas sim claramente
assimétricas. Fizemos a única escolha viável: escolhemos a união”,
frisou o chefe de Governo. Qualificando a
emissão de dívida conjunta e a elaboração do Fundo de Recuperação
‘NextGenerationEU’ de “momento fulcral” para a UE, Costa salientou ainda
que se trata da “primeira vez que a Europa não respondeu a uma crise
com austeridade”. Passando à segunda
prioridade do semestre português, o primeiro-ministro frisou que se
tratou da “promoção dos valores europeus”, destacando a importância
tanto da Cimeira Social do Porto, que decorreu em 07 de maio, como da
adoção, nessa ocasião, do Plano de Ação do Pilar Europeu dos Direitos
Sociais.“Precisamos de uma Europa capaz de
produzir resultados, de honrar os seus valores e de dar aos seus
cidadãos esperança e confiança no futuro: ao produzir resultados, ao
responder às angústias e às expectativas legítimas dos seus cidadãos, a
Europa combate o medo que alimenta os populismos. Daí a importância,
durante a crise atual, da resposta comum, firme e determinada da UE”,
sublinhou Costa. Reiterando assim a
importância da solidariedade, o primeiro-ministro referiu que a Europa
deve “assumir a sua responsabilidade de assegurar a proteção
internacional de todos aqueles que são vítimas das guerras, das
violações dos direitos humanos, e da perseguição política, religiosa ou
fundada sobre qualquer outra discriminação”. Abordando
assim a terceira prioridade do semestre português, o chefe de Governo
referiu que se tratou de “reforçar a autonomia estratégica de uma Europa
aberta ao mundo”, salientando que a UE precisa de “diversificar as
relações com parceiros de todas as latitudes”, elencando nomeadamente a
África, os parceiros transatlânticos – como os Estados Unidos, a América
Latina ou o Reino Unido -, mas também a região do Indo-Pacífico. “Fizemos
da cimeira com a Índia [em 08 de maio] uma prioridade e estamos
orgulhosos que a nossa presidência tenha conseguido desbloquear
finalmente as negociações sobre o comércio e o investimento e aberto
novos projetos conjuntos sobre o espaço, tecnologia digital e o clima
com a Índia”, indicou. O primeiro-ministro
considerou ainda que, se a Europa “quer ter um futuro”, precisa de
mobilizar as “forças da cidadania e, sobretudo, das próximas gerações".Nesse
sentido, abordou ainda a Conferência sobre o Futuro da Europa para
sublinhar que o evento não “deve esgotar-se nas questões
institucionais”, nem “recolher-se em Bruxelas”. “Se
quisermos ter sucesso, não podemos ignorar as nossas diferenças,
devemos abordá-las, confrontar as nossas posições com franqueza e
lealdade. A Conferência sobre o Futuro da Europa é a ocasião para o
fazer: assumir aquilo que queremos fazer todos juntos, e aquilo que
apenas alguns querem fazer em conjunto”, apontou. O
chefe de Governo concluiu referindo que, apesar do “contexto sombrio”
que a Europa atravessa – devido à pandemia, à crise socioeconómica
“dramática”, à instabilidade na vizinhança e à ameaça do terrorismo – os
europeus “têm o dever de acreditar no futuro”.“Mário
Soares sempre foi um idealista na sua visão do futuro, e um realista na
sua construção do presente. A melhor maneira de honrar um homem da sua
grandeza e da sua visão, é de olhar para o futuro da Europa de frente, e
com um sentimento de necessidade, de urgência, e de insatisfação”,
referiu.