Universidade de Évora investiga potencial da saliva no estudo da doença
Covid-19
26 de mai. de 2020, 10:19
— Lusa/AO Online
O
artigo, intitulado “Use of Saliva for Diagnosis and Monitoring the
SARS-CoV-2: A General Perspective”, foi publicado no Journal of Clinical
Medicine, revelou a Universidade de Évora (UÉ), em comunicado
enviado à agência Lusa.Uma das coautoras,
Elsa Lamy, investigadora do Instituto Mediterrâneo para Agricultura,
Ambiente e Desenvolvimento (MED) da UÉ, explicou que o aparecimento da Covid-19, doença causada pelo SARS-CoV-2, lançou novos desafios à
comunidade científica.E “a saliva poderá
ser um bom auxiliar na resposta à necessidade de diagnosticar a infeção
pelo SARS-CoV-2”, principalmente para “testar a população quanto à
presença de anticorpos para o vírus, clarificar os mecanismos envolvidos
no desenvolvimento desta doença e encontrar soluções de tratamento
dirigidas e eficazes”, frisou.O artigo
contou igualmente com a participação de outro investigador do MED,
Fernando Capela e Silva, que é também professor do Departamento de
Biologia da Escola de Ciências e Tecnologia da UÉ.Investigadores
das universidade de Múrcia (Espanha) e de Glasgow, na Escócia (Reino
Unido), com os quais os investigadores da UÉ “têm vindo a colaborar
desde há uns anos em estudos acerca da bioquímica salivar”, também
“assinam” o artigo, indicou a academia alentejanaElsa
Lamy referiu que “a saliva é um fluido que tem a grande vantagem de ser
facilmente obtido através de métodos de recolha não invasivos” e
“contém, na sua constituição, muitas das moléculas que se encontram em
circulação” no sangue, “em níveis mais baixos, mas, muitas vezes, na
mesma proporção”. Ao longo dos últimos 20
anos, o “estudo da saliva tem vindo a ganhar especial atenção por parte
da comunidade científica, como fonte de biomarcadores de diversos
estados patológicos e fisiológicos”, destacou a Universidade de Évora,
frisando que é nesta área que os investigadores da “casa” têm centrado
atenções, em colaboração inclusive com cientistas de outros países.Face
à pandemia da Covid-19, “é sobretudo para o diagnóstico da presença do
vírus que o potencial da saliva é reconhecido de forma mais imediata”,
afirmou a UÉ: A presença do vírus na saliva é, precisamente, “um dos
principais motivos para a recomendação do uso de máscara”, para evitar o
contágio, sublinhou Elsa Lamy.A recolha
de saliva, defendeu também, “poderá ser uma alternativa menos
incomodativa e dolorosa, comparativamente às amostras atualmente usadas
para o diagnóstico de infeção por este agente, designadamente o exsudado
da nasofaringe e orofaringe colhido com zaragatoa e/ou o aspirado
endotraqueal ou lavado broncoalveolar”.Os
investigadores referiram que “não há, até ao momento, estudos
publicados” que confirmem “a presença de anticorpos específicos para o
SARS-CoV-2 na saliva”, mas “é expectável que estes se encontrem neste
fluido”, o que, a confirmar-se, seria uma “vantagem para a testagem da
imunidade que será necessária nesta fase de desconfinamento”.A
comparação da composição bioquímica da saliva entre indivíduos
assintomáticos e outros com diferentes níveis de gravidade será um dos
aspetos a analisar pelos investigadores, que esperam “encontrar
marcadores de prognóstico, sem ter que sujeitar as pessoas ao
desconforto de picadas para recolha de sangue”, acrescentou Fernando
Capela e Silva.A perda de paladar relatada
por infetados pelo novo coronavírus é outro dos aspetos que intriga os
investigadores, segundo Elsa Lamy, que assumiu que, quanto à Covid-19 e à
sua relação com a saliva, “está ainda quase tudo por saber”, mas a UÉ
tem “as condições e o ‘know-how’ para poder avançar nesta área”.