UNICEF recomenda que Itália reforce apoios sobretudo para as crianças
Migrações
15 de dez. de 2025, 16:46
— Lusa/AO Online
A proteção destes migrantes
exige uma visão de longo prazo e garantias adequadas de acolhimento por
parte das instituições italianas, alertou o Fundo das Nações Unidas para
a Infância (UNICEF), na apresentação que fez do relatório “Famílias em
Movimento”, em conjunto com a federação internacional Terre des Hommes.O
relatório, que inclui uma série de recomendações às instituições de
apoio aos migrantes, refere que, ao longo de 2025 chegaram às costas de
Itália mais de 63.900 pessoas.Deste total,
adianta a ONU, 18,3% eram menores de idade, sendo que mais de 1.700
perderam a vida no Mediterrâneo central, uma das rotas migratórias mais
perigosas do mundo.“As famílias que chegam
a Itália, muitas vezes a fugir de conflitos, violência ou negligência
para com os seus filhos, enfrentam jornadas marcadas por riscos extremos
e profunda vulnerabilidade”, afirmou a coordenadora de resposta da
UNICEF para crianças migrantes e refugiadas em Itália, Nicola
Dell’Arciprete, em comunicado de imprensa.Por isso, responder com intervenções de emergência não é suficiente, defendeu.“É
necessária uma visão a longo prazo para permitir que as famílias
reconstruam as suas vidas em condições de dignidade e autonomia, no
melhor interesse dos que chegam, especialmente das crianças, e de toda a
comunidade”, adianta.Entre as
recomendações que estão a ser enviadas a várias agências centrais e
locais conta-se a necessidade de garantir condições de acolhimento
adequadas, de reduzir a permanência em centros de acolhimento inicial e
de incluir pessoal com formação e mediadores linguísticos e culturais
nos processos.Além disso, no documento
pede-se que as instituições promovam a inscrição imediata dos migrantes
no serviço nacional de saúde, nas escolas e nos serviços de assistência à
infância, e que garantam vias de apoio especiais para pessoas com
“experiências potencialmente traumáticas, como tortura, violência de
género ou luto”.No relatório, as
organizações reconstroem as histórias de algumas vítimas através de
relatos recolhidos em centros de acolhimento, incluindo das dificuldades
que enfrentam, das suas necessidades específicas e vulnerabilidades e
concluem que as famílias permanecem frequentemente em centros de
acolhimento extraordinários durante longos períodos, por vezes durante
vários anos.“Por detrás de cada história,
está uma família simplesmente a tentar recomeçar com dignidade”, realçou
a defensora legal da Terre des Hommes, Federica Giannota.“Queremos
dar visibilidade a estas famílias 'invisíveis' para que possam aceder
facilmente a todos os serviços essenciais para a sua saúde e proteção
após um percurso que as expôs a inúmeros perigos”, afirmou.Uma
das histórias destacadas no relatório é a de Khadija, originária de
Marrocos, que chegou a Itália em 2022, vinda da Líbia, e foi acolhida
num grande, mas isolado, centro da Sicília, onde a sua filha sofreu
muitas dificuldades, incluindo ataques de pânico.Apesar
disso, Khadija “encontrou forças para recomeçar: tirou a carta de
condução, terminou o liceu” e agora trabalha como voluntária a apoiar
outras pessoas que precisam, contou a responsável da organização. A
Itália, uma das principais “portas” de entrada de migrantes irregulares
na Europa, tem-se queixado de estar sobrecarregada endurecendo as
políticas migratórias, sobretudo com o Governo de direita e
extrema-direita liderado pela primeira-ministra Giorgia Meloni.