Única peça de teatro de Vitorino Nemésio publicada no 2.º volume da sua Obra Completa
2 de mar. de 2019, 13:52
— AO Online/Lusa
Trata-se de uma peça em um ato, publicada pela primeira vez em 1920, em Angra do Heroísmo, e que foi levada à cena em março desse ano pela companhia do Teatro S. Luiz, que se encontrava em digressão nos Açores.“A partir daí entrou no esquecimento e não voltou a ser editada”, escrevem os investigadores Chloé Pereira e Luiz Fagundes Duarte, numa nota editorial.Um esquecimento compreensível, segundo os investigadores, que citam o escritor e ensaísta David Mourão-Ferreira, que a colocou entre as obras “imaturas” de Nemésio, que se seguiu ao seu primeiro livro de poemas, além de que “o próprio autor nunca se lhe refere, nem tão pouco a incluiu na sua bibliografia”.“O enredo da peça, que respeita o modelo aristotélico de utilidade do tempo, espaço e ação, é simples: no seu sóbrio gabinete ‘de intelectual’, Jorge confidencia ao amigo Luís a sua história de amor proibido e secreto ‘de uma noite’ com Clarisse, rapariga que não consegue esquecer apesar de estar noivo de Laura, e de ela ser a noiva de Vasconcelos; Luís censura-lhe o comportamento irresponsável, - e estão dos dois nesta conversa quando, inesperadamente, entra Clarisse”, escrevem os dois investigadores.Os dois amantes encetam uma conversa “plena de artificialismo de meio social”, que não era o dele, e de “subtileza de linguagem”, que “já prefigura o futuro escritor”.O final da peça, sem surpresas, é a separação de ambos, determinada por Clarisse e cada um regressa à sua relação oficial.Este segundo volume inclui ainda os livros de contos “Paço do Milhafre” e “O Mistério do Paço do Milhafre”, o primeiro publicado em 1924, e segundo afirmou Nemésio, em 1969, nele conta circunstancialmente a sua infância, pessoas e coisas, esclareceu.Numa nota editorial, o investigador Urbano Bettencourt explica que “a decisão de publicar integralmente e lado a lado os dois volumes de contos, independentemente das alterações textuais e ou narrativas que ocorreram de um para o outro, representa para o leitor a possibilidade de proceder a esse confronto e de aperceber-se da progressão de alguns procedimentos de escrita nemesiana”.Numa outra perspetiva – prossegue Urbano Bettencourt -, permite ao leitor “optar diretamente por uma versão ou por outra, sem cuidar de saber do labor oficinal do seu autor”.A publicação Obra Completa de Vitorino Nemésio foi iniciada no ano passado, com a edição do primeiro dos quatro livros de poesia do autor. O volume que abriu a série reúne a poesia editada desde 1916 a 1940.Vitorino Nemésio, entre outras atividades e colaborações dispersas em várias revistas literárias e jornais, foi professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e, como poeta, “por ele passam muitas das ideias estéticas que enformaram a poesia portuguesa do século XX, no seio da qual soube manter uma voz e uma postura muito próprias”, escreveu Fagundes Duarte, responsável pela edição da obra, doutorado em Línguas e Literaturas Modernas e Linguística, pela Universidade Nova de Lisboa.Além dos quatro volumes de poesia, o plano da Obra Completa de Vitorino Nemésio prevê editar a ficção três volumes, um deles do seu mais celebrado romance “Mau Tempo no Canal”, e em seis volumes o seu Diário e Crónicas, que inclui os textos de “Se bem me lembro” e quatro volumes de Ensaio, entre os quais “Relações Francesas do Romantismo Português”, originalmente editado em 1936, e a biografia de D. Isabel de Aragão, mulher do rei D. Dinis.Vitorino Nemésio nasceu a 19 de dezembro de 1901, em Praia da Vitória, Açores, e morreu há 40 anos, em 20 de fevereiro de 1978, em Lisboa, e tornou-se muito popular graças ao programa televisivo "Se Bem me Lembro", apresentado por si na RTP, de 1970 a 1975.