Uma em cada quatro crianças é afetada pela seca extrema em Portugal
28 de ago. de 2023, 14:46
— Lusa
“Em
Portugal, uma em cada quatro crianças é afetada pela seca severa e
extrema que o país enfrenta”, disse diretora executiva da UNICEF
Portugal, Beatriz Imperatori, citada em comunicado. De
acordo com Imperatori, o Estado deve garantir o direito a um ambiente
de vida “humano, sadio e ecologicamente equilibrado” para todas as
crianças, conforme o artigo 66.º da Constituição da República
Portuguesa. “Hoje apelamos aos decisores
políticos, ao setor público, a todas as empresas e instituições e à
sociedade civil que coloquem as crianças em foco nas estratégias para o
ambiente e que as capacitem enquanto agentes de mudança. É preciso mudar
em tempo útil”, realçou.Devido ao
agravamento da crise climática, o Comité dos Direitos da Criança da
Organização das Nações Unidas (ONU) publicou hoje uma orientação oficial
ao abrigo da Convenção sobre os Direitos da Criança, ratificada por 196
Estados, incluindo Portugal, sobre o que deve ser feito para respeitar o
direito das crianças a um ambiente limpo, saudável e sustentável.O
“Comentário Geral n.º 26 sobre os direitos das crianças e o ambiente,
com foco especial nas alterações climáticas” aborda “os impactos da
emergência climática, do colapso da biodiversidade e da poluição
generalizada, delineando medidas de contrapartida para proteger as vidas
e as perspetivas de vida das crianças, reforçando o princípio da
equidade intergeracional e das gerações futuras”.A
orientação indica que “é basilar garantir o acesso a uma habitação
adequada (resiliente); a segurança alimentar e a segurança de todas as
crianças, de modo a reduzir as vulnerabilidades criadas pelos fenómenos
naturais como os eventos climáticos extremos, a degradação ambiental ou a
perda da biodiversidade”.Os países que
ratificaram a Convenção sobre os Direitos da Criança são incentivados a
tomar medidas imediatas, incluindo a eliminação progressiva do carvão,
do petróleo e do gás natural e a mudança para fontes de energia
renováveis, apresentando periodicamente relatórios sobre os progressos
realizados na proteção dos direitos ambientais das crianças.“Com
o Comentário Geral n.º 26, o Comité dos Direitos da Criança não apenas
amplifica as vozes das crianças, mas também define claramente os seus
direitos em relação ao meio ambiente que os Estados membros devem
respeitar, proteger e cumprir... coletiva e urgentemente!”, afirmou
Philip Jaffé, membro do Comité.O documento ajuda a interpretar o compromisso dos países no âmbito do Acordo de Paris.“Os
Estados são responsáveis não só por proteger os direitos das crianças
contra danos imediatos, como também por violações previsíveis dos seus
direitos no futuro devido a ações dos Estados – ou à sua omissão – no
presente”, sublinha, lembrando que “podem ser responsabilizados” por
danos ambientais dentro e além das suas fronteiras.Atualmente,
de acordo com a Unicef, cerca de mil milhões de crianças vivem em
países de risco extremamente elevado perante os impactos das alterações
climáticas e mais de 99% estão expostas a pressões climáticas e
ambientais. A Unicef recordou que dois mil milhões de pessoas vivem sem acesso a água potável, das quais 600 milhões são crianças.“Até
2040, prevê-se que quase 600 milhões de crianças vivam em zonas de
‘stress’ hídrico extremamente elevado – uma em cada quatro crianças com
menos de 18 anos”, acrescentou.