As apostas 'seguras'
de atletas para medalhas são mesmo muito limitadas e que, nesse
domínio, Portugal pode regressar do Qatar sem nada na bagagem, apesar do
otimismo de Pedro Pablo Pichardo, no triplo salto, e de Inês Henriques
ter determinação em defender a 'coroa' nos 50 km marcha que conquistou
há dois anos.Jorge Vieira, presidente da
Federação Portuguesa de Atletismo, mostra-se, agora, reservado a
quantificar expectativas, depois de no início do ano a instituição que
lidera apontar para uma participação muito superior, mesmo acima dos 30
atletas, e para a medalha de Pichardo, o cubano que trocou a ilha das
Caraíbas e que 'adora' competir com calor e humidade.O
triplista luso-cubano e campeã em título dos 50 km marcha, são, ainda
assim, as principais esperanças portuguesas na luta por lugares no
pódio. Nelson Évora (triplo), João Vieira (50 km marcha), Patrícia
Mamona e Susana Costa (triplo), Ana Cabecinha (20 km marcha) e Salomé
Rocha (maratona) são os que poderão também entrar na luta pelos lugares
de honra.O triplo está em destaque, com um
terço da comitiva, sendo que Évora já foi campeão e Pichardo
vice-campeão (ainda por Cuba). São eles que abrem os Mundiais, em termos
de portugueses, na tarde de sexta-feira, procurando marca para
regressar ao estádio Khalifa dois dias depois.Não
serão dos que mais sofrem com os incríveis horários destes campeonatos -
maratonistas e marchadores terminam de madrugada - e à hora em que
competem as temperaturas já são um pouco mais amenas, em dias em que a
máxima prevista é de 38 graus.Ao nível da
pista do estádio, a temperatura está controlada e não deve passar dos 26
a 28 graus, se tudo correr bem. Mas a temperatura na cidade, durante os
últimos dias de treino (32 graus à meia-noite) e a humidade, que chega
aos 80 por cento, vai 'pesar' para (quase) todos.Entre
as exceções está justamente Pichardo, nascido em Santiago de Cuba e que
viveu em condições não muito diferentes. Gosta de treinar e competir
com calor e humidade e gosta deste estádio, onde já ganhou para a Liga
Diamante e onde fixou um recorde nacional.As
apostas colocam-no como 'provável quarto', num pódio totalmente
norte-americano, algo de que Pichardo discorda com veemência, reiterando
que estará na luta por uma medalha.Seria a
22.ª para Portugal, que já conquistou 21 medalhas em 11 das 16 edições
dos Mundiais já realizadas, das quais seis de ouro. Pichardo já foi duas
vezes vice-campeão, mas por Cuba.Terá de
estar bem melhor do que nesta época, até agora. Terá nos
norte-americanos Will Claye (18,14 esta época) e Christian Taylor,
bicampeão olímpico e tricampeão mundial, com 17,82 como melhor esta
época, os grandes adversários. O terceiro norte-americano é Omar
Craddock (17,68 este ano). Pichardo, que
tem 18,08 como recorde pessoal, já chegou este ano aos 17,53 e é o
quinto entre os inscritos, a logo atrás de Hugues Zango (Burundi), com
17,58 em pista coberta. Nelson Évora,
terceiro há dois anos, aparece em lugar secundário (18.º), com os seus
17,13 em pista coberta, mas costuma fazer as suas melhores marcas em
grandes competições. Quanto a Inês
Henriques, a época também não lhe correu bem, só que tem determinação
'sem fim' e o estatuto de ser a atual campeã do mundo e da Europa.
Com 4:09.21 horas esta época, Inês Henriques continua entre as
melhores, aos 29 anos. Abaixo das 4:10 horas, há ainda as chinesas
Maocuo Li (4:03.51) e Faying Ma (4:07.30), a italiana Eleonora Giorgi
(4:04.50) e a espanhola Julia Takacs (4:05.46), com outra chinesa, Rui
Liang, a ter 4.04.36 em 2018.O triplo
salto tem, além de Pichardo e Évora, a 'quota máxima' no triplo, e
Patrícia Mamona, Susana Costa e Evelise Veiga já fizeram saltos que as
colocam como prováveis finalistas, o que seria um feito inédito para
Portugal.Na marcha, além de Inês
Henriques, também João Vieira (50 km) e Ana Cabecinha (20 km) têm
aspirações a posições honrosas. Ele já foi medalhado de bronze, em 2013,
ela é uma 'cliente habitual' do top-10, tendo mesmo dois quartos
lugares.Aos 43 anos, João Vieira é o
'decano' da equipa e vai para a sua 11.ª participação, um recorde que
iguala Susana Feitor - que curiosamente está em Doha integrada na
comitiva da Noruega, como treinadora.Outra
hipótese de boa classificação será a de Salomé Rocha na maratona,
atendendo ao 11.º tempo (2:24.47) que tem entre as inscritas. Fez
uma preparação específica de horas de treino sob calor e humidade, para
numa corrida sempre imprevisível e ainda mais desta vez, atendendo à
alta temperatura que se espera, apesar de a prova se iniciar à
meia-noite local.A seleção completa-se com
Lorène Bazolo (100 metros), Cátia Azevedo (400 metros), Irina Rodrigues
e Liliana Cá (disco), Francisco Belo (peso)e Mara Ribeiro (50 km
marcha) com objetivos que, mais do que classificações, passam por marcas
próximas do seu melhor.