Um em cinco doentes permanece internado por razões sociais
Covid-19
25 de mai. de 2020, 12:41
— Lusa/AO Online
Os
dados constam do Barómetro de Internamentos Sociais Covid-19, promovido
pela APAH, que analisou e caracterizou o número de internamentos
inapropriados, à data de 5 de maio, associado a doentes infetados, mas
que não apresentam motivos de saúde que justifiquem a sua permanência no
hospital. Com uma participação de 32
instituições de todo o país foram reportados 810 doentes internados com Covid-19, dos quais 147 em internamento inapropriado.
Foram reportadas um total de 2.069 camas reservadas a doentes
covid-19, o que representa uma taxa de ocupação de cerca de 39% a nível
nacional, segundo o estudo. Do total dos
810 internamentos, 147 eram doentes que não necessitavam de estar
internados por razões de saúde, representando cerca de 18% do total de
internados. De acordo com o barómetro, o
total de dias de internamento social era de 2.419, sendo a demora média
de internamento inapropriados 16,5 dias. A
maioria dos doentes (56%) são mulheres e 55% têm 80 ou mais anos, 22%
entre os 70 e os 79 anos e 9% entre os 60 e os 69 anos.
A grande maioria (73%) dos casos reportados é na região norte, seguida
da Região de Lisboa e Vale do Tejo (15). Oito por cento dos casos são
na região Centro, 2% no Alentejo, 1% no Algarve e nos Açores.
Em declarações à agência Lusa o presidente da APAH, Alexandre
Lourenço, explicou que a primeira razão de internamento destes doentes
foi a Covid-19, mas agora já não necessitam de cuidados hospitalares.
"Do universo analisado, detetámos que perto de 20% dos doentes se
mantinham internados de forma inapropriada aguardando respostas
extra-hospitalares”, disse Alexandre Lourenço.
Os dados apontam que a incapacidade de resposta de familiar ou
cuidador em período de Covid-19 representa a principal causa de
internamentos sociais (29%), seguida da falta de capacidade do lar da
terceira idade para garantir as condições de isolamento necessárias
(23%). Há ainda 21% que aguarda a
negativação de teste para infeção pelo novo coronavírus SARS-Cov-2 para
admissão na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI).
"O que nos parece aqui relevante para o futuro, e até para o
desenvolvimento de estratégias para a Covid-19 será importante, é
encontrar as soluções dedicadas para estes doentes Covid-19, evitando a
sua permanência dentro dos hospitais, uma vez que estão sujeitos aos
mesmos problemas dos restantes doentes”, defendeu Alexandre Lourenço.
Na prática, acrescentou, “se tivermos uma maior pressão sobre o
sistema de saúde, estes doentes acabam por estar a ocupar camas que
deviam ser utilizadas por outros doentes covid-19 que realmente
necessitavam de estar internados”.
Segundo o presidente da APAH, a recomendação é que devem ser
desenvolvidas estratégias para encontrar estabelecimentos, sejam lares
da terceira idade ou da de Rede de Cuidados Continuados dedicados a este
tipo de doentes que não necessitam de cuidados hospitalares apesar da
origem do internamento ser a infeção por SARS-CoV-2.
"O fenómeno dos internamentos sociais tem vindo a refletir um elevado
impacto não só no prolongamento da ocupação das camas em ambiente
hospitalar, como também no aumento dos tempos de espera para
internamentos programados e, consequentemente, na respetiva degradação
dos cuidados de saúde prestados à população", refere o barómetro que
conta com a participação da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e
da consultora EY.