Um debate entre crescimento económico, inflação e crises em serviços públicos
Estado da Nação
20 de jul. de 2022, 08:44
— Lusa/AO Online
Na véspera do debate, o
Governo aprovou em Conselho de Ministros o acordo com a Associação
Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP) para a transferência de
competências da administração central para as autarquias, assim como um
diploma para criar as condições de estabilização das equipas médicas das
urgências dos hospitais e que prevê um regime remuneratório para o
trabalho suplementar.António Costa chega
ao primeiro debate parlamentar do estado da nação da XV Legislatura com
um executivo em funções há pouco mais de três meses e meio e com o
trunfo de Portugal poder registar no final deste ano o mais elevado
crescimento económico da União Europeia, 6,5% de acordo com as previsões
de Bruxelas.As previsões indicam também
que o défice poderá ficar abaixo dos 1,9% inscritos no Orçamento para
2022, que a dívida em percentagem do Produto Interno Bruto (PIB)
continuará numa trajetória descendente e o próprio António Costa tem
reivindicado números recorde de investimento no país.Em
paralelo, como consequência agravada pela guerra da Ucrânia, a inflação
atingiu os 8,6% em junho, num ano em que os trabalhadores da
administração pública tiveram um aumento de 0,9%, e os juros de Portugal
a 10 anos superam atualmente os 2,3%.Face
ao drástico aumento dos custos com combustíveis e bens alimentares, a
oposição, em bloco, tem exigido compensações imediatas para os
trabalhadores e pensionistas, mas o executivo rejeita, alegando que essa
via alimentará uma “espiral inflacionista”, e tem apresentado em
alternativa medidas de “mitigação” dos aumentos dos preços, que estima
já terem ultrapassado os 1600 milhões de euros.Além
da incerteza que caracteriza a atual conjuntura económica e financeira,
o Governo foi confrontado com situações de caos nos aeroportos por
causa da falta de agentes do Serviços de Estrangeiros e Fronteiras e com
urgências hospitalares encerradas em fins de semana prolongados por
falta de médicos. Em ambas as situações, o executivo socialista anunciou
planos de contingência para atenuar os problemas até ao final do verão.Nos
últimos 10 dias, com o território nacional a registar temperaturas
excecionalmente elevadas e após um ano de seca, regressaram os incêndios
florestais de grandes dimensões. Em termos de meios de combate, a
generalidade dos observadores considerou coordenada e eficaz a resposta
dada pela generalidade das forças do sistema de Proteção Civil, mas
também se apontou a persistência de grandes insuficiências no plano
estrutural da prevenção, designadamente ao nível da redução dos terrenos
abandonados e da crescente fragmentação da propriedade rural.Na
sexta-feira, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa,
afirmou estar "curioso de ver o novo panorama parlamentar" no debate
sobre o estado da nação.O PSD tem desde o
início deste mês um novo presidente, Luís Montenegro, que não é
deputado, e um líder parlamentar eleito na semana passada, Joaquim
Miranda Sarmento, que fará a sua estreia nestas funções precisamente no
debate sobre o estado da nação.Entre
outros temas, o PSD liderado por Luís Montenegro tem atacado “o caos”
nos serviços públicos – um resultado que atribui à “ausência de reformas
estruturais” no país nos últimos anos - e considera que o Governo, na
atual conjuntura de alta de inflação, possui a “exigência moral” de
compensar com “o excedente orçamental” as camadas mais vulneráveis da
população.“O estado da nação é grave.
Estamos a empobrecer e a sofrer na pele os efeitos da falta de
transformação e reformismo em Portugal”, sintetizou na quarta-feira o
presidente do PSD.Com uma linguagem mais
radical, o Chega culpa o executivo socialista por o país estar
“literalmente a arder” e por ter permitido que se instalasse o caos em
vários serviços públicos, designadamente na saúde.“O
estado da nação, em Portugal, com o grau de estatismo que temos tido,
confunde-se com o estado do Estado”, sustenta por sua vez o presidente
da Iniciativa Liberal, João Cotrim de Figueiredo.Na
oposição à esquerda, o PCP acusa o Governo de não agir perante o
“agravamento das condições de vida”, enquanto o Bloco sustenta que este
executivo de maioria absoluta do PS tenta “empurrar com a barriga”
soluções para problemas estruturais do país.O
PAN e o Livre, partidos que se abstiveram no Orçamento deste ano,
criticam a “ausência de reflexão profunda” e de visão sobre reformas
estruturais.O debate inicia-se pelas 15h00 (menos uma nos Açores) e tem a duração de 221 minutos, divididos entre abertura, debate e
encerramento. A sessão começa com uma intervenção do primeiro-ministro,
sujeito a perguntas dos grupos parlamentares e dos deputados únicos,
seguindo-se a discussão, que é encerrada pelo Governo.