s
Um campo para a formação e sanar a dívida de seis milhões de euros à SAD do Santa Clara (com vídeo)

Ricardo Pacheco, presidente do Clube Desportivo Santa Clara é o único candidato às eleições marcadas para dia 15 e no seu segundo mandato o objetivo passa por continuar uma série de projetos que ainda estão em marcha e resolver duas questões antigas no clube


Autor: Arthur Melo

Porque razão decidiu avançar para um segundo mandato como presidente do Clube Desportivo Santa Clara (CDSC)?

O segundo mandato coloca-se porque temos projetos ainda em marcha. Não foi uma decisão fácil, não vou escondê-lo. Sou advogado, tenho cinco filhos, sou presidente do CDSC e também sou vogal não executivo do conselho de administração da Santa Clara Açores – Futebol SAD, mas estou no Santa Clara pro bono, não recebo nada para estar ao serviço do Santa Clara – nem quero receber nada, que isso fique bem claro – mas um clube da dimensão do Santa Clara, que é não só a maior instituição desportiva dos Açores, mas também a instituição açoriana com maior visibilidade no mundo, exige muito trabalho, um trabalho com reuniões diárias e às vezes não é fácil conciliar tudo isso com uma vida profissional muito difícil. Mas o amor ao clube supera tudo e também uma série de projetos que temos em marcha. E não posso ficar indiferente aos pedidos de inúmeros sócios que me pediram que continuasse nestas funções e, em particular, à posição do presidente da SAD, o engenheiro Bruno Vicintin, um homem que hoje, para além de colegas no conselho de administração, somos bons amigos, e sei que o projeto que ele também tem para a nossa instituição merece que se diga sim, sobretudo depois de tudo aquilo que temos assistido na SAD, neste caso, da parte do nosso investidor maioritário.

Daquilo que foi feito e alcançado nos últimos três anos, o que é que destaca como “a obra” que vai marcar o seu primeiro mandado?

A minha direção fez muitas coisas. Recordo, antes do dia 1 de outubro de 2021, de entrar na sede e ver no estado em que ela se encontrava, sem funcionários, completamente suja, abandonada. Pelo menos metade dos nossos formadores já se tinham afastado do clube. As dívidas... um panorama complicado! Acho que conseguimos coisas fantásticas, o que muito nos orgulha. O exemplo número um é a recuperação da sede. Ao fim de 85 anos conseguimos, finalmente, adquirir a sede. A SAD adquiriu a sede, a sede é da SAD, mas está ao serviço do clube por comodato, gratuitamente, porque o clube também é dono da SAD. Mas também há outras coisas que fizemos que muito me orgulham. A criação da Academia de Estudo é um projeto que me dá uma alegria imensa porque neste momento quase 25 jovens têm explicações de português e matemática gratuitas, estão a valorizar-se como estudantes. Também o programa alimentar que criamos para os jogos e para os treinos. Todos os nossos meninos e meninas têm direito a um lanche após os treinos e os jogos. A ideia do projeto alimentar surgiu porque um dos nossos jovens tinha ido treinar e desmaiou no treino, porque não comia há mais de 24 horas! Muita gente não sabe dessas coisas. O Santa Clara não é só a equipa principal. Temos quase 500 atletas ligados ao clube e há muitos de famílias enfraquecidas, que precisam de algum apoio e o facto de lhes darmos explicações e alimentos são duas medidas que muito me alegram.

Sempre defendi e defendo que os Açores não são nove ilhas; os Açores são 10 ilhas e a ilha maior é a ilha da Diáspora onde estão a maioria dos nossos irmãos e irmãs. Este é um projeto que quero cada vez mais intensificar porque, por exemplo, a nossa Academia de Estudo só é possível graças a um emigrante que adora o Santa Clara e abraçou o projeto. Porque senão não seria fácil, já que estamos a falar de uma academia com um custo anual na casa dos 20 mil euros. Conseguimos com a energia dos nossos irmãos da ilha mais importante dos Açores, que é a ilha da Diáspora.


O desporto adaptado foi uma aposta ganha?

O desporto adaptado é uma prioridade do clube, a seguir à formação do futebol. Chegamos ao clube com nove atletas no desporto adaptado, neste momento temos cerca de 70 atletas e o nosso projeto é chegar aos 150, 200 atletas, porque o Santa Clara tem o dever de abraçar a sociedade, sobretudo aqueles que necessitam de ter uma ocupação, um entretenimento. O Santa Clara já é uma potência nacional no desporto adaptado e tenho o sonho de nos próximos três anos ser a maior potência nacional em termos de desporto adaptado.

Quais são os principais projetos que a sua candidatura tem para apresentar aos sócios para os próximos três anos?

Queremos aumentar, consideravelmente, o número de praticantes no desporto adaptado. Em termos de formação, a formação do Santa Clara vai ter de se apresentar de uma forma mais pujante. O universo Santa Clara é muito grande, queremos vencer as competições dos diversos escalões onde estamos inseridos. Vamos criar, se necessário for, equipas B e equipas C porque nenhum jovem que queira jogar no Santa Clara deixará de jogar no Santa Clara. Temos espaço para todos, mas queremos ter uma postura mais profissional porque acreditamos nos jovens açorianos. Temos vários miúdos referenciados que queremos que estejam nos nossos quadros. Estamos a trabalhar em parceria com a SAD porque a SAD tem um know-how que o clube não tinha e queremos caminhar de mãos dadas.

É um problema que herdamos e que me preocupa muito que é a questão do clube não dispor de um campo para a formação. Não é fácil porque estamos a falar de um investimento muito alto, mas até nesta matéria temos vindo a conversar com a SAD e vamos encontrar uma forma de conseguir que este clube, nos próximos anos, possa ter instalações próprias também para a formação. Vamos ter o Centro de Estágio que será construído, mas o Centro de Estágio só comporta três campos, não vai dar para tudo e o Santa Clara também vai ter que ter as suas instalações.

Depois há um outro problema que é crónico e que também se alonga desde a constituição da SAD. Criou-se uma espécie de banco bom e banco mau no universo Santa Clara. O banco bom foi a SAD e o banco mau foi o clube, isto é, os ativos passaram para a SAD e o clube ficou com os problemas, nomeadamente, com uma dívida astronómica à SAD, de cerca de seis milhões de euros, e temos este problema para resolver. Conto resolver este assunto com o presidente da SAD, visando o interesse do universo Santa Clara e gostaria muito que conseguíssemos resolver este problema que nunca foi resolvido, que herdamos, mas que terá de ser falado. O clube tem direitos, certamente também terá deveres, tem direito a pedir, mas vai ter que perceber que também vai ter que dar alguma coisa. O clube é a mãe e a SAD o seu filho. A mãe nunca vai deixar o seu filho, mas o filho tem que perceber que a mãe precisa de algum apoio.

Quais são as principais dificuldades com que se depara o CDSC no momento atual?

O problema principal é a questão das instalações desportivas para os nossos atletas poderem praticar desporto. Temos jovens a treinar nas Capelas, temos jovens a treinar em Ponta Delgada, temos jovens a treinar nos Arrifes. O Santa Clara é o clube mais forte na Associação de Futebol de Ponta Delgada, o clube com mais atletas nos quadros e andamos com a casa às costas a treinar em vários lugares e temos que trabalhar para resolver este assunto.

Em relação às modalidades tínhamos também este problema, com atletas a treinar nos Arrifes, em Água de Pau e na Lagoa. Neste momento temos o nosso pavilhão, através de um protocolo celebrado com a Câmara Municipal de Ponta Delgada, onde todos os dias das 17h00 até quase à meia-noite está ocupado para a prática do desporto, nomeadamente para a prática do desporto adaptado.

Mas é um pavilhão que não reúne condições para poder albergar todas as modalidades que o clube possa querer implementar, tem algumas limitações!

Tem algumas limitações e um dos projetos que temos é trazer para o clube, se calhar já na próxima época, é o hóquei em patins. O Santa Clara não é só futebol e quando me falam nos grandes nomes que passaram pelo Santa Clara, há uma pessoa que pessoalmente tenho um carinho muito especial, que já cá não está, que foi o Floriano Machado. É alguém que dispensa apresentações. Chegou a jogar de manhã na melhor equipa do Santa Clara de hóquei e ao alto nível nacional e à tarde ia jogar na equipa principal do Santa Clara. O Floriano Machado contraiu uma lesão num jogo, lesão que afetou a sua audição para o resto da vida e ele nunca reclamou nada do clube, dava tudo a este clube, é um homem por quem tenho um carinho absolutamente único. Se todos, a começar por mim, fôssemos como o Floriano Machado, o Santa Clara seria, certamente, a maior equipa portuguesa!

Também temos outras modalidades. Temos uma parceria com a Universidade dos Açores para o basquetebol e voleibol, mas a verdade é que mesmo em relação ao desporto adaptado vamos precisar de mais instalações. Quando falo no próximo mandato conseguirmos obter instalações, queríamos muito um campo para a formação, se calhar uma área também para o futebol de 7, e ter um espaço para um dia também construirmos o nosso pavilhão.

Um complexo que poderia chamar-se Complexo Desportivo Floriano Machado?

Se tivesse a felicidade, certamente seria uma alegria muito grande porque, para mim, o melhor atleta da história do Santa Clara que eu vi jogar foi o Floriano Machado.

Que mensagem gostaria de deixar aos sócios do CDSC que vão votar no próximo dia 15?

A mensagem que gostaria de deixar aos nossos sócios, em primeiro lugar, agradecer-lhes por aquilo que são, por aquilo que representam, por nunca nos deixarem, por apoiarem sempre. Agradecer-lhes porque o Santa Clara é conhecido como sendo um clube com assembleias gerais extremamente vivas, muitas vezes até polémicas, de sócios mais emblemáticos do que outros e a mensagem é que continuem a ser como são porque é isso que fez e que faz a riqueza deste clube.

Houve um presidente do clube, o Guerreiro Evaristo, que nos anos 80 disse que o Santa Clara estava condenado a ir para a I Liga! Na altura quando disse isso foi alvo de gozo... a palavra é mesmo essa, porque as pessoas achavam isso absolutamente impensável: um clube, que à semelhança dos restantes clubes regionais, e aqui na ilha era um clube que estava cá em baixo, chegar à I Liga era visto quase como a história do John Kennedy quando disse que ia por um homem na Lua! A verdade é que um conjunto de homens que estiveram à frente desse clube nos 80, 90 e por aí fora conseguiram mostrar que são, efetivamente, a nata do dirigismo desportivo açoriano e conseguiram por este clube na I Liga. E com a ajuda, o apoio e a sensatez dos sócios acredito que vamos colocar o Santa Clara como uma das principais instituições desportivas nacionais.