UE vai alterar regras de ajudas estatais e instituir fundo soberano
17 de jan. de 2023, 11:07
— Lusa/AO Online
Discursando
na 53.ª reunião anual do Fórum Económico Mundial, em Davos, na Suíça,
Ursula von der Leyen dedicou grande parte da sua intervenção à
“transição verde” rumo a uma economia neutra em carbono, fazendo um
balanço dos esforços que as grandes economias mundiais estão a fazer a
nível de investimento em tecnologias limpas, e assumiu a preocupação na
Europa com o plano de subvenções norte-americano, no montante de 369 mil
milhões de dólares. “Não é segredo que
alguns dos incentivos às empresas contemplados na Lei de Redução da
Inflação [adotada no ano passado pelos Estados Unidos] estão a causar
alguma preocupação. É por isso que estamos a trabalhar com os nossos
amigos dos Estados Unidos para encontrar soluções, por exemplo para que
as empresas da UE e os carros elétricos fabricados na UE possam também
beneficiar da Lei de Redução da Inflação”, disse.Apontando
que o “objetivo deve ser evitar qualquer perturbação do comércio e
investimento transatlântico”, a presidente do executivo comunitário
defendeu que as partes devem trabalhar “para assegurar que os respetivos
esquemas de incentivos sejam justos e se reforcem mutuamente”. “No
centro da nossa visão partilhada está a nossa crença de que a
concorrência e o comércio são as pedras angulares da aceleração das
tecnologias limpas e da neutralidade climática. E isto significa que
nós, europeus, devemos também fazer melhor para fomentar a nossa própria
indústria de tecnologias limpas”, disse. Reportando-se
ao Pacto Ecológico Europeu, Von der Leyen explicou os quatro pilares do
plano da UE para atingir a neutralidade climática em 2050, e,
relativamente aos incentivos para o investimento em tecnologias limpas e
o financiamento da sua produção, defendeu então que, “para manter a
atratividade da indústria europeia”, a UE necessita de ser mais
competitiva relativamente às ofertas e medidas de incentivo que estão
atualmente a ser praticadas fora da União. “É
por isso que vamos propor a adaptação temporária das nossas regras em
matéria de auxílios estatais, para acelerar e simplificar as coisas. Os
cálculos serão mais fáceis. Os procedimentos serão mais simples. As
aprovações serão mais rápidas. Por exemplo, ofereceremos modelos simples
de benefícios fiscais, assim como apoios direcionados para instalações
de produção dentro de cadeias de valor de tecnologias limpas, para
contrariar os riscos de deslocalização ligados a subsídios concedidos
fora da União”, adiantou.A presidente da
Comissão prosseguiu afirmando-se consciente de que “as ajudas estatais
serão apenas uma solução limitada, que apenas alguns Estados-membros
poderão utilizar”, pois nem todos os países dispõem da mesma margem
orçamental para ajudar as suas empresas, uma questão que tem suscitado
preocupação entre muitos países da UE, que receiam uma distorção cada
vez maior dentro do mercado único, face ao poderio económico de Alemanha
e França.“Se quisermos evitar um efeito
de fragmentação do mercado único e apoiar a transição para tecnologias
limpas em toda a União, precisamos também de aumentar o financiamento da
UE. A médio prazo, estabeleceremos um fundo soberano europeu, como
parte da revisão intercalar do nosso orçamento [plurianual] no final
deste ano”, revelou então. Segundo Von der
Leyen, “esta é uma solução estrutural que irá aumentar os recursos
disponíveis para a investigação, inovação e projetos industriais
estratégicos que são essenciais para alcançar o objetivo de emissões
zero”. “Mas como isto levará tempo,
procuraremos uma solução transitória para fornecer apoio rápido e
direcionado, onde for mais necessário. Para este fim, estamos atualmente
a trabalhar arduamente numa avaliação das necessidades”, disse.A
dirigente alemã fez também várias referências às práticas da China,
defendendo que, “quando o comércio não é justo”, as respostas da UE
“devem ser mais fortes”.“A China fez da
promoção do fabrico e inovação de tecnologias limpas uma prioridade
chave no seu plano quinquenal. Lidera a produção global em setores como
os veículos elétricos e os painéis solares, que são fundamentais para a
transição. Mas a corrida à neutralidade de carbono deve ser baseada em
condições de igualdade”, disse, acrescentando que esse não é o caso. Von
der Leyen apontou que “a China está a encorajar abertamente as empresas
de energia intensiva na Europa e noutros locais a deslocalizarem a
totalidade ou parte da sua produção para a China, o que estão a fazer
com a promessa de energia barata, baixos custos de mão-de-obra e um
ambiente regulador mais acomodatício”. “Ao
mesmo tempo, a China subsidia maciçamente a sua indústria e restringe o
acesso das empresas da UE ao seu mercado. Ainda precisaremos de
trabalhar e negociar com a China, sobretudo para fazer esta transição.
Por isso, precisamos de nos concentrar na redução dos riscos em vez de
nos dissociarmos. Isto significa utilizar todos os nossos instrumentos
para lidar com as práticas desleais - incluindo o novo regulamento de
subsídios estrangeiros. Não hesitaremos em abrir investigações se
acreditarmos que os nossos contratos públicos ou outros mercados são
distorcidos por tais subsídios”, declarou.Von
der Leyen deixou uma mensagem de confiança na capacidade da UE para
liderar a transição verde: “A Europa já tem tudo: talento,
investigadores, capacidade industrial. E a Europa tem um plano para o
futuro. É por isso que acredito que a história da economia da tecnologia
limpa será escrita na Europa”.