UE precisa de reconhecer que também erra, admite Barnier
2 de abr. de 2019, 12:04
— Lusa/AO Online
Num pequeno almoço dedicado ao ponto de
situação do ‘Brexit, e ‘batizado’ de “Deal or no deal?”, Michel Barnier
‘fugiu’ do guião para nomear as falhas recentes do projeto europeu, num
discurso mais próprio de um candidato à presidência da Comissão
Europeia do que do negociador-chefe comunitário para a saída do Reino
Unido da UE.“Precisamos de extrair lições
do ‘Brexit’. Devemos perguntar-nos porque, em 2016, 52% da população
britânica votou para sair da UE? E porque a Europa foi mal interpretada
por tanta gente?”, começou por notar.Admitindo
que houve desinformação e falta de debate na campanha que precedeu o
referendo realizado no Reino Unido em 23 de junho de 2016, e em que
51,9% dos eleitores britânicos votaram pela saída do bloco comunitário,
Michel Barnier esmiuçou a culpa europeia nesse desfecho.“Há
a sensação de que a Europa não responde às necessidades dos cidadãos.
Que a Europa se preocupou mais com a vertente económica do que com a
social. Acima de tudo, que a Europa não corresponde aos sonhos e
promessas de um melhor futuro. Esta visão não pertence apenas ao Reino
Unido. Precisamos de ouvir e reconhecer que por vezes a Europa está
errada”, alertou.Encarado em Bruxelas como
o mais forte ‘outsider’ na corrida à sucessão de Jean-Claude Juncker na
presidência da Comissão Europeia – embora o seu partido, o Partido
Popular Europeu, tenha eleito o alemão Manfred Weber como
‘Spitzenkandidat’ -, o antigo comissário Europeu do Mercado Interno não
escondeu, no final do pequeno almoço de trabalho, a frustração por não
“ter tido oportunidade de falar mais sobre o futuro da Europa”.Ainda
assim, o político francês deixou uma mensagem para os 27
Estados-membros que permanecerão na UE depois da retirada do Reino
Unido, exortando-os a replicar a união demonstrada nos dois longos anos
de negociação do ‘Brexit’ noutros temas desafiantes, como a reforma da
zona euro ou as migrações.“Em todos estes
temas precisamos de união para construir uma agenda positiva. A mesma
união que demonstrámos durante este processo”, concluiu.Instituído
por ocasião das anteriores eleições europeias, o modelo de
‘Spitzenkandidaten’ não é tido como garantido para as eleições de 2019
no seio do Conselho Europeu, com vários chefes de Estado e ou de
Governo, entre os quais o primeiro-ministro António Costa, a sublinharem
que, de acordo com os Tratados, cabe ao Conselho propor ao Parlamento
Europeu um nome ao cargo de presidente da Comissão, "tendo em conta os
resultados eleitorais", mas que, "no limite", pode não ser o candidato
principal da força política mais votada.Nesse
sentido, o nome de Barnier é um dos mais falados para a futura
presidência do executivo comunitário, quer pela sua experiência enquanto
comissário entre 2010 e 2014, na Comissão liderada por José Manuel
Durão Barroso, quer pelo seu desempenho e projeção enquanto negociador
do ‘Brexit’. Contra si, o político francês
poderá ter o arrastar do processo de saída do Reino Unido da União
Europeia, para já agendada para 12 de abril, e a posição do Parlamento
Europeu, que defende que o processo de ‘Spitzenkandidaten’ “é para
manter”, garantindo que rejeitará qualquer nome proposto pelos líderes
europeus para o cargo de presidente da Comissão que não tenha sido
designado “candidato principal” pelos partidos políticos europeus antes
das eleições de 23 a 26 de maio.