UE à espera de conhecer copiloto de Scholz na locomotiva franco-alemã
24 de dez. de 2021, 15:15
— Lusa/AO Online
As eleições de setembro
passado na Alemanha ditaram já uma mudança de fundo, pois não só
marcaram o fim da ‘era’ de Angela Merkel, chanceler e figura de proa da
UE durante os últimos 16 anos, que deixou a vida política ativa, como
resultaram numa mudança de ‘cores’ partidárias no mais poderoso
Estado-membro da União, com um novo governo de coligação liderado pelos
sociais-democratas do SPD, de Scholz.Mas
se a mudança na Alemanha não acarreta inquietações no seio da UE, pois
os três partidos da coligação (SPD, Verdes e liberais do FDP) são
declaradamente pró-europeus e tudo aponta para uma política de
continuidade – aliás, Scholz era o vice-chanceler na última coligação
liderada por Merkel (2018-2021) -, já as eleições em França suscitam
alguma ansiedade, uma vez mais face ao risco de uma hipotética vitória
de um candidato de extrema-direita e eurocético.Tal
como em atos eleitorais anteriores em França, as sondagens apontam para
fortes resultados da extrema-direita, que desta feita até tem dois
‘candidatos a candidatos’ de peso, pois, além da líder da União Nacional
(antiga Frente Nacional), Marine Le Pen, surgiu o controverso escritor
Éric Zemmour, que, de acordo com as mais recentes consultas, terá até
mais possibilidades de disputar uma segunda volta do que Le Pen.No
entanto, se prevalecer a ‘lógica’, também a França permanecerá um
Estado-membro europeísta em 2022, restando saber quem ocupará o Palácio
do Eliseu, com as sondagens a apontarem a reeleição de Emmanuel Macron
como o cenário mais provável, o que não colocaria em causa a dinâmica do
‘motor’ franco-alemão, ainda mais relevante na ‘engenharia’ da UE desde
a saída do outro ‘peso pesado’ do bloco europeu, o Reino Unido, em
2020.Curiosamente, a campanha eleitoral
francesa e o ato eleitoral terão lugar em plena presidência francesa do
Conselho da UE, no primeiro semestre de 2022, fator adicional para
Macron fazer dos temas europeus uma ‘bandeira’.Num
sinal inegável do comprometimento de Scholz e de Macron com a
continuação da aliança franco-alemã para fazer avançar o projeto
europeu, Paris foi a primeira capital visitada pelo novo chanceler, a 10
dezembro, menos de 48 horas após a sua eleição, e mesmo antes de
Bruxelas, onde se deslocou no mesmo dia, mas já depois do encontro com o
Presidente francês no Eliseu.Na ocasião,
Macron disse que a primeira troca de impressões com Scholz refletiu “uma
sólida convergência de pontos de vista" e "um desejo” dos dois países
de trabalharem em conjunto, enquanto o chanceler garantiu que a Alemanha
vai assumir “a sua responsabilidade” no projeto europeu e não vai
limitar-se a assistir.Mas mesmo num
cenário de ‘normalidade’, ou seja, de derrota das forças anti-UE nas
eleições francesas de abril, o eixo franco-alemão vai ser posto à prova
em algumas matérias de extrema importância da política europeia, onde os
pontos de vista de Paris e Berlim nem sempre são absolutamente
convergentes.Em pelo menos três matérias,
França e Alemanha terão de aproximar posições, a começar pela reforma
das regras de governação económica e disciplina orçamental, que deve ser
concluída em 2022, de modo a aplicar-se a partir do início de 2023.Nesta
data está prevista a desativação da cláusula de flexibilidade das
regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento, designadamente os limites
de défice e dívida pública, para permitir aos Estados-membros fazer
face à crise provocada pela covid-19.Paris
é muito mais defensora de uma reforma profunda das regras de disciplina
orçamental, que continua a ser muito cara a Berlim, mesmo com um
Governo liderado pelo SPD.Outras duas
questões nas quais são evidentes as divergências entre França e Alemanha
são a energia nuclear – o desígnio defendido por Macron de fazer do
nuclear um pilar na estratégia de descarbonização no quadro da transição
ecológica não é nada bem acolhido pelos alemães, e sobretudo pelos
Verdes, agora no poder -, e a visão sobre a autonomia estratégica e
futura política de Defesa da UE, que Paris quer bem mais ambiciosa do
que Berlim.De todo o modo, se Macron for
efetivamente confirmado em abril como o copiloto de Scholz na locomotiva
franco-alemã, a generalidade dos analistas aposta na “continuidade” da
boa cooperação entre França e Alemanha no plano europeu ao longo dos
próximos anos, que se tem revelado indispensável para fazer avançar o
projeto europeu.