Trump revela "informações classificadas" em áudio-livro de jornalista Bob Woodward
19 de out. de 2022, 15:57
— Lusa/AO Online
A
cadeia de televisão CNN teve acesso a uma parte do áudio-livro que vai
ser lançado no próximo dia 25 e que contém oito horas de entrevistas
conduzidas por Bob Woodward ao ex-chefe de Estado norte-americano
durante o seu mandato.Bob Woodward, 79
anos, revelou com o jornalista Carl Bernstein o Caso Watergate, em 1972,
nas páginas do jornal Washington Post, um escândalo que conduziu ao
afastamento de Richard Nixon da presidência dos Estados Unidos. No
último trabalho, resultado de uma série de encontros com Donald Trump,
na Sala Oval, Casa Branca, em dezembro de 2019, Woodward perguntou ao
então chefe de Estado se a atitude para com Kim Jong-un tinha
como intenção levar o líder norte-coreano a negociar. "Não.
Não. Foi assim porque foi assim. Aconteceu, quem sabe, instintivamente.
Vamos falar do instinto, está bem ? (...) Porque, realmente, trata-se
do que não se sabe do que vai acontecer. Mas, foi uma retórica muito
dura. A mais dura", afirma Trump na gravação que está a ser reproduzida
pela CNN. Trump pediu aos assessores
para mostrarem a Woodward as fotografias com Kim Jong-un na Zona
Desmilitarizada entre as duas Coreias (DMZ)."Aqui
estamos ele e eu. Ali está a linha (DMZ), não é ? Depois andei sobre a
linha. Foi genial. Muito. Não foi?", diz Trump sobre o momento em que se
encontrou com o líder da Coreia do Norte na Linha de Pamunjong que
divide a Península da Coreia. Parte
deste novo audio-livro de Bob Woodward contém 20 entrevistas a Donald
Trump realizadas entre 2016 e 2020 e inclui as opiniões do ex-presidente
dos Estados Unidos sobre o líder do regime de Pyongyang. As
entrevistas que fornecem mais informações sobre a visão do mundo de
Donald Trum são as gravações mais longas em que o ex-presidente fala
sobre o mandato como chefe de Estado e que incluem as razões sobre o
encontro com Kim Jong-un, a relação com o presidente russo, Vladimir
Putin, e as opiniões sobre o próprio arsenal nuclear dos Estados
Unidos. As gravações mostram também a
forma como Trump decidiu partilhar com Woodward as cartas que o
dirigente da Coreia do Norte, tratando-se de "missivas secretas" que o
ex-presidente levou para a residência particular de Palm Beach, Florida e
que levaram recentemente as autoridades judiciais a iniciarem uma
investigação sobre a posse de documentos classificados, supostamente,
apropriados pelo ex-chefe de Estado."Não digas que tos dei (mostrei). Está bem?", diz Trump a Woodward ao mostrar as cartas de Kim Jong-un. O
jornalista Bob Woodward diz na introdução do audio-livro que publica
estas gravações, em parte, porque "ouvir Trump é uma experiência
completamente diferente do que ler as transcrições ou escutar apenas os
fragmentos de entrevistas". Segundo a
CNN, Woodward descreve Trump como "tosco, profano, conflituoso e
enganador" e com uma linguagem "muitas vezes vingativa". "Por
outro lado também se mostra atrativo e ameno e ri-se (...) Tenta
vencer-me, vender-me a presidência. É um vendedor a 'tempo inteiro'",
diz Woodward. "Quis usar a voz de Trump,
as próprias palavras dele, pelo registo histórico e para que as pessoas
possam ouvir, julgar e tirar conclusões", disse o jornalista. Nas
entrevistas, Trump comparte pontos de vista sobre os "homens fortes que
admira", incluindo Kim Jomg-Un, Putin, o presidente da Turquia, Recep
Tayip Erdogan e revela "estar convencido" que é a pessoa mais
inteligente de todas. Numa das
entrevistas, registada em junho de 2020, após os protestos generalizados
nos Estados Unidos depois da morte de George Floyd pela polícia,
Woodward perguntou a Trump se foi ajudado a escrever o discurso em que
se declarou "como presidente da lei e da ordem". "[Os
discursos] vêm com as ideias. Mas as ideias são minhas, Bob. As ideias
são minhas (...) é tudo meu. Tudo,", disse Trump a Woodward. A
uma pergunta sobre o programa nuclear da Coreia do Norte, o
ex-presidente refere-se às capacidades nucleares dos Estados Unidos
mencionando um novo sistema de armamento que provavelmente era
"secreto", alegando que é "um sistema de armas que ninguém teve
anteriormente".Para Woodward a revelação reforça a "maneira casual e perigosa" como o ex-presidente trata as informações classificadas.