Tripulantes dos aviões com índices de exaustão emocional “preocupantes”
24 de set. de 2019, 09:55
— Lusa/AO Online
No
trabalho, que a direção do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da
Aviação Civil (SNPVAC) encomendou a um grupo de académicos, e que
incluiu um inquérito com mais de 1.300 respostas, conclui-se que “poucos
profissionais não exibem sinais significativos de esgotamento
emocional", ficando apenas 8,85% abaixo dos vinte pontos (num máximo de
100). O estudo refere que “35,24% dos
profissionais apresentam sinais muito elevados de exaustão emocional”,
33,18% dos profissionais têm “alguns sinais preocupantes de exaustão
emocional”, “16,4% dos profissionais têm sinais críticos de exaustão
emocional” e 6,33% dos inquiridos com resposta válidas situam-se no
nível “exaustão emocional extrema”, entre 80 e 100 pontos. Ainda
assim, o trabalho conclui que “o pessoal de voo apresenta um elevado
índice de realização profissional nos termos do estudo”, sendo que 40,1%
dos tripulantes mostram “sinais elevados de realização profissional,
entre 60 e 80 pontos”. No que diz respeito
ao esgotamento emocional por companhias aéreas, existem três
transportadoras com resultados negativos, com destaque para a Ryanair,
“com valores muito elevados de contribuição para o valor do teste pelo
lado negativo”, ou seja, “com índice médio muito alto de esgotamento
emocional nos seus profissionais”. Também a
Azores Airlines tem uma “contribuição muito significativa” para o
índice médio de esgotamento emocional, com a easyJet a registar também
uma “contribuição elevada”. Segundo o
estudo, a TAP apresenta-se melhor do que a média das companhias nos
índices muito elevados, mas “tem muitos profissionais, mais do que a
média esperada, no quarto escalão de esgotamento emocional (entre os 30 e
os 39 pontos), o que poderá indicar que no futuro, se a situação não
for combatida e se as condições de trabalho degenerarem, estes
trabalhadores poderão cair para estádios mais avançados em esgotamento
emocional, típicos de desgaste”, alerta o relatório. No
entanto, no texto do estudo alerta-se para o facto de “umas companhias
apresentarem melhores resultados do que outras não significa que não
tenham índices preocupantes, significa que há situações extremas nas
companhias a seguir mencionadas: a Azores Airlines, acima da média, a
easyJet, grave, e a Ryanair, muito grave”. Os
tripulantes foram questionados, entre vários outros itens, sobre o
assédio moral no local de trabalho, sendo que o estudo conclui que a TAP
apresenta os níveis mais reduzidos “e estes são dados muito seguros,
pois a amostra para esta companhia é elevada: nesta questão aparecem
1.019 membros desta companhia a responder”. A
Ryanair destaca-se novamente pela negativa, sendo que “os valores
reportados pelos respondentes são extremamente altos e preocupantes, com
225% de assédio acima do valor esperado, e valores médios muito acima
de todas as outras companhias”. No caso da
easyJet, “parece haver menos assédio moral”, mas a amostra conta apenas
com 64 respostas e Azores Airlines apresenta resultados também
negativos, “108% acima do esperado”. O
inquérito foi realizado entre 20 de março e 02 de maio e contou com uma
amostra inicial global de 1.361 respostas, tendo sido validados 1.312
inquéritos. Dos respondentes 67,7% eram do
sexo feminino e 32,3% do masculino, abrangendo vários géneros de
profissionais, entre comissários, chefes de cabine e supervisores. O
estudo foi coordenado por Raquel Varela, historiadora do trabalho e
contou com a participação de Roberto Della Santa, cientista social, e
Henrique Oliveira, matemático.