Trinta pessoas protestam contra aeroporto junto a inauguração com Costa
Montijo
4 de fev. de 2020, 12:12
— Lusa/AO Online
“Isto é um
crime e eu gostava muito de pedir pessoalmente ao primeiro-ministro que
não faça o aeroporto aqui. Não quero que os meus netos sejam acordados
de cinco em cinco minutos pelo ronco de quatro motores de grande
capacidade. Cento e trinta decibéis já não é ruído, é dor e provoca a
loucura”, disse à Lusa o morador Lúcio Janeiro, 79 anos. O
residente foi mecânico de aviação e viu “gente a ficar louca devido ao
ruído”, apelando ao Governo que opte por construir o novo aeroporto no
Campo de Tiro de Alcochete (em grande parte localizado no concelho
vizinho de Benavente, no distrito de Santarém), em oposição à Base Aérea
n.º 6, situada entre o Montijo e Alcochete, no distrito de Setúbal. Já
Cristina, de 58 anos, mostrou uma grande preocupação não só em relação
ao barulho dos aviões, mas também à poluição ambiental que a
infraestrutura poderá causar na região. “Nós
realmente não queríamos aviões sobre a nossa terra porque é
perigosíssimo e por tudo o que se tem dito, pelo perigo das aves, mas
principalmente das pessoas, não só pelo barulho, mas também outro tipo
de poluição. Toda a vida fomos carregados com décadas de poluição da
Companhia União Fabril (CUF) e agora estamos a levar com mais isto”,
referiu. O protesto começou às 09:30 e foi
organizado pela Plataforma Cívica BA6-Montijo Não, aproveitando a
visita do primeiro-ministro, António Costa, à cerimónia de inauguração
de uma creche no Colégio Côrte-Real, na Moita. Segundo
o membro do grupo José Encarnação, a construção no Montijo é a “pior
solução que se podia encontrar por todas as razões”, sobretudo pelo
ruído e por ser de curto prazo, com uma duração prevista de apenas “15
anos”. “Tudo isto é um somatório de erros e
de pressões inaceitáveis sobre as populações e é isso que viemos dizer
ao senhor primeiro-ministro”, afirmou. A
plataforma esperava que fosse possível um encontro com o governante, o
que não aconteceu, mas entregou a um assessor de António Costa um dossiê
informativo sobre a posição contra a infraestrutura e solicitou uma
reunião para discutir “as graves consequências que vão existir no
Montijo”. Outro membro da plataforma,
Vítor Silveira, que é piloto de aviação, frisou que “não é admissível
nos dias de hoje construírem um aeroporto numa zona protegida
ambientalmente, de alto teor sísmico e rodeada de povoações”. “É
um perigo contra a saúde das pessoas, a qualidade de vida vai ser
bastante afetada e é um perigo de afetação contra o ambiente, porque faz
parte da Zona de Proteção do Estuário do Tejo. É uma área utilizada por
milhões de aves todos os anos, o que implica perigos contra a operação
aeronáutica. Vai acontecer de certeza o fenómeno do ‘birdstrike’”,
sublinhou. O Campo de Tiro de Alcochete
tem aprovada uma Declaração de Impacte Ambiental (DIA) até dezembro
deste ano, sendo a opção que hoje foi mais defendida, mas há quem aponte
outras soluções, como o morador Francisco Vale.
“O senhor primeiro-ministro tem de ter a honra de respeitar o seu
voto nas urnas, mas acima de tudo o povo. Tem de rescindir completamente
com todos os contratos que fez com a VINCI e a ANA Aeroportos e
lembrar-se de que no Alentejo há um aeroporto que está pronto para
receber passageiros com todas as infraestruturas”, defendeu.
Em janeiro, a Agência Portuguesa do Ambiente anunciou que o projeto
do novo aeroporto no Montijo, na margem sul do Tejo, recebeu uma decisão
favorável condicionada em sede de Declaração de Impacte Ambiental
(DIA), mantendo cerca de 160 medidas de minimização e compensação a que a
ANA - Aeroportos de Portugal "terá de dar cumprimento", as quais
ascendem a cerca de 48 milhões de euros.