Trinta mulheres assassinadas até meados de novembro, metade por violência doméstica
23 de nov. de 2020, 13:31
— Lusa/AO Online
De acordo com os dados
do OMA, da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), até ao dia
15 de novembro tinham sido assassinadas 30 mulheres, 16 em contexto de
relações de intimidade, sejam atuais, passadas ou apenas pretendidas
pelo agressor, 12 em contexto familiar e as outras duas noutros
contextos.Desde 2004, quando a UMAR
começou a fazer este levantamento de dados através de notícias da
comunicação social e respetiva análise, já foram mortas 564 mulheres,
além de terem sido registadas 663 tentativas de homicídio.“São
dados que nos preocupam e temos de lutar para que cheguem às zero
mortes”, apontou Cátia Pontedeira, da UMAR, sublinhando que há três
grandes áreas onde é necessário atuar, desde a violência prévia,
denúncias às autoridades e fatores de risco.Relativamente
aos números de 2020, e especificamente em relação às 16 mortes
ocorridas no seio de relações de intimidade, os dados do observatório
mostram que em nove casos havia uma relação atual entre vítima e
agressor, enquanto noutros seis casos havia uma relação passada e ainda
um caso em que o agressor pretendia ter uma relação com a vítima.De
acordo com Camila Iglésias, uma das autoras do relatório, “o femicídio é
normalmente o culminar de um ciclo de violência” e apontou que em 10
dos 16 casos já havia uma situação de violência prévia que tinha sido
reportada, sendo que noutras quatro situações havia já denúncias às
autoridades, além de outras quatro em que foram reportadas ameaças de
morte à vítima.Em sete das 16 situações, o
agressor matou a vítima com recurso a uma arma de fogo, enquanto
noutros quatro casos foi com arma branca.Em
44% dos casos (7), o local da morte foi na residência conjunta de
vítima e agressor, tendo havido outros quatro casos em que o crime
acontece na casa da vítima, três na via pública e uma das situações
acontece no local de trabalho da vítima.Apesar
de serem 16 crimes, há a contabilizar 17 agressores porque num dos
casos o homicídio foi planeado com a ajuda da companheira atual do
agressor. Em 10 dos casos, o agressor ficou em prisão preventiva e houve
um agressor obrigado a internamento psiquiátrico, além de outros cinco
que se suicidaram.Em 10 dos 16 femicídios,
vítima e agressor tinham filhos em comum, havendo 21 crianças e jovens
que ficaram órfãos de um ou ambos os progenitores.A
maior parte das vítimas (10) tem entre 36 e 64 anos, está empregada e
tem filhos, enquanto no caso dos agressores, há uma prevalência de casos
(10) com homens entre os 36 anos e os 64 anos, têm uma situação laboral
omissa (47%) e têm filhos.Por outro lado, o mês de novembro foi o que teve mais ocorrências, registando-se três mortes nos primeiros 15 dias.Relativamente
aos outros 14 homicídios que acontecem noutros contextos, segundo o
observatório, 12 acontecem no meio de relações familiares, sendo que em
cinco destes havia referência a violência doméstica prévia. Em quatro
destes cinco casos, o que se passava era do conhecimento de outras
pessoas e em um dos casos havia mesmo denúncia às autoridades.O OMA registou ainda 49 tentativas de assassinato, 43 das quais tentativas de femicídios.Na
sequência destes dados, a UMAR recomenda mais formação especializada de
profissionais e implementação rápida de medidas de proteção das
vítimas, além de se dar real valor a todos os fatores de risco em cada
caso, através de uma avaliação de risco especializada que seja
acompanhada por um plano de segurança.Pede também proteção e acompanhamento especializado para todas as crianças órfãs, vítimas diretas dos femicídios.