Tribunal inicia julgamento de advogada nos Açores sem presença de arguida
31 de mai. de 2019, 16:02
— Lusa/AO Online
O início
do julgamento deste caso tem sido sucessivamente adiado e a advogada em
causa está acusada de ter ficado com parte do valor de uma indemnização
dos seus clientes, num processo que envolve três pescadores do Pico
abalroados em 2004 por um navio da National Geographic.Os
pescadores, que foram resgatados, viriam a ser indemnizados pelo
armador, mas a advogada que os defendia terá ficado com grande parte do
dinheiro.Já em maio deste ano, o Tribunal da Relação de Lisboa indeferiu o pedido de recusa da juíza formulado pela advogada. A
arguida nunca compareceu em nenhuma audiência de julgamento agendada e
hoje voltou a não estar presente, apresentando um atestado.No
entanto, a juíza notificou a médica subscritora da baixa médica
apresentada hoje para esclarecer "a doença de que padece a arguida",
tendo em conta "os sucessivos atestados que a advogada tem apresentado".Ainda
assim, a advogada da arguida garantiu que esta “não prescinde do
direito de prestar declarações" numa eventual segunda audiência de
julgamento que possa ser marcada.Hoje, na
primeira audiência de julgamento, o Tribunal prescindiu do testemunho de
um dos pescadores lesados que seguia no barco porque este não estava
com capacidade para prestar declarações, tendo sido afetado por um AVC.Contudo,
a sua mulher sublinhou ao tribunal que o marido continua "muito
perturbado com tudo", admitindo que o homem tenha sofrido um AVC "devido
às preocupações" relacionadas com a indemnização "a que tinha direito,
mas que não recebeu na totalidade, tal como sucedeu com o filho", que
era o proprietário da embarcação.“Imploro
que façam justiça”, sustentou a testemunha, alegando que o marido e um
filho assinaram uma procuração "várias vezes pressionados" pela arguida,
que alegava estar "a negociar".De acordo
com a testemunha, em 2014, a família "acabou por ter conhecimento de que
a arguida tinha ficado com parte da indemnização" e foi aí que
decidiram avançar com uma queixa no tribunal.Emocionada,
a mulher do pescador lesado disse ainda que a situação "afetou" a vida
financeira do agregado familiar que esteve "sem um escudo para comer".Acabariam
mais tarde, por comprar, "com a ajuda da família", uma "lancha de
menores dimensões", mas viram "diminuir" os rendimentos familiares.Ao
tribunal, o filho mais novo disse recordar-se do acidente porque seguia
na embarcação de pesca com o pai, assegurando que "foi uma sorte" o
salvamento.“Tinha 17 anos. Eu estou vivo e
já não ligo muito ao dinheiro, mas os meus pais têm passado muito com
esta situação. São 15 anos de sofrimento”, reforçou.Aquela
testemunha referiu que a arguida "inventava desculpas atrás de
desculpas" quando era questionada sobre as indemnizações e que alegava
que "as procurações eram para as negociações"."A minha mãe estava sempre a ligar para ela, mas ela dizia que estava a negociar", contou.Já
o irmão que era proprietário do barco abalroado "está preso no Peru por
tráfico de droga", o modo que encontrou para "tentar arranjar dinheiro
para a família", afirmou a testemunha, acrescentando que o irmão "nunca
chegou a receber os 80 mil euros a que tinha direito".