Tribunal Europeu dos Direitos Humanos considera admissíveis casos de Kiev contra Rússia
25 de jan. de 2023, 17:49
— Lusa
A decisão do Tribunal
Europeu dos Direitos Humanos (TEDH), com sede em Estrasburgo, França,
representa um progresso significativo nos esforços dos Países Baixos e
da Ucrânia para responsabilizar judicialmente a Rússia pelas suas ações
em território ucraniano e poderá abrir caminho a pedidos de
indemnização.O TEDH indicou também que será posteriormente emitida uma decisão sobre o tipo de casos que serão admissíveis.As
ações judiciais junto do TEDH foram movidas antes de Moscovo ter
lançado a sua invasão da Ucrânia em três frentes, há quase um ano, a 24
de fevereiro de 2022.“Muito boas notícias:
a decisão do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos é mais um passo
importante para descobrir a verdade e se fazer justiça pelas vítimas do
voo MH17 e suas famílias”, escreveu a ministra da Justiça neerlandesa,
Dilan Yesilgöz-Zegerius, na rede social Twitter.O
ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE), Wopke Hoekstra, também saudou
a decisão como um marco importante na procura por responsáveis.“Continuaremos
a fazer tudo o que pudermos para obter justiça para todas as 298
vítimas do voo MH17 e seus entes queridos”, escreveu o MNE neerlandês no
Twitter.O TEDH indicou que as provas
apresentadas numa audiência no ano passado mostraram que, a partir de 11
de maio de 2014, zonas do leste da Ucrânia controladas por rebeldes
separatistas se encontravam “sob jurisdição da Federação Russa” e que
Moscovo “teve uma influência significativa na estratégia militar dos
separatistas”, incluindo o fornecimento de armas, a realização de
ataques de artilharia pedidos pelos rebeldes e dar-lhes apoio político e
económico.O tribunal determinou que havia
provas suficientes para demonstrar a admissibilidade da maioria das
acusações ucranianas de violações de direitos e de um processo
relacionado, sobre o despenhamento do voo MH17, movido pelos Países
Baixos, e que só um pequeno número de alegações foi considerado
inadmissível.O tribunal de Estrasburgo é
uma parte importante do Conselho da Europa, que é a mais importante
instituição de direitos humanos do continente. A Rússia foi expulsa da
organização no ano passado, numa situação sem precedentes, provocada
pela sua invasão da Ucrânia e pela guerra ainda em curso. Contudo, o
TEDH ainda pode julgar casos contra a Rússia, desde que anteriores à
data da sua expulsão.Os casos de
Estrasburgo são separados de uma acusação criminal nos Países Baixos em
que dois cidadãos russos e um rebelde ucraniano foram condenados à
revelia em novembro passado por vários homicídios, isto é, pelos papéis
que desempenharam no abate do voo MH17 sobre o leste da Ucrânia, a 17 de
julho de 2014. Todos os 298 passageiros e
tripulantes morreram quando o Boeing 777 que partiu de Amesterdão com
destino a Kuala Lumpur foi abatido sobre o leste do território
ucraniano.No seu caso no tribunal de
direitos humanos, os Países Baixos argumentam que Moscovo teve um papel
fundamental no abate do voo MH17 e que a ausência de investigação por
parte da Rússia e a sua falta de cooperação com o Ministério Público
neerlandês, juntamente com as suas rejeições de qualquer envolvimento,
agravaram o sofrimento de familiares e amigos das vítimas.Promotores
neerlandeses afirmam que o sistema de mísseis que abateu o MH17 foi
transportado por terra para a Ucrânia de uma base militar na Rússia e
devolvido à origem após a sua utilização. A
Ucrânia apresentou vários casos contra Moscovo alegando numerosas
violações da Convenção Europeia dos Direitos Humanos, entre as quais
“ataques militares ilegais contra civis que causaram muitas mortes,
incluindo o abate do voo MH17 e a execução sumária e o espancamento até à
morte de civis” e de soldados que já não estavam a participar nas
hostilidades. Acusou igualmente a Rússia de sequestrar 85 crianças
ucranianas.