Tribunal defende que José Sócrates não quer fugir à Justiça
Operação Marquês
Hoje 12:15
— Lusa/AO Online
"O perigo de
fuga, enquanto requisito cautelar, deve assentar em factos concretos e
não em meras conjeturas, designadamente com a alusão a putativos planos
de fuga. No caso vertente, a conduta do arguido demonstra o oposto da
intenção de se subtrair à ação da justiça", refere, num despacho datado
de 17 de dezembro, a presidente do coletivo de juízes, Susana Seca.O
Ministério Público tinha questionado uma deslocação recente de José
Sócrates aos Emirados Árabes Unidos, admitindo que a viagem poderia
fazer parte de um plano de fuga e que as medidas de coação aplicadas ao
arguido poderiam mudar.O posicionamento
surgiu depois de, no final de novembro, o antigo primeiro-ministro ter
dito numa entrevista à CNN que estivera duas semanas nos Emirados Árabes
Unidos, quando o TIR obriga a que sejam comunicadas ao tribunal todas
as deslocações superiores a cinco dias.José
Sócrates rejeitou publicamente a acusação e entregou no processo os
bilhetes das viagens, que ocorreram, segundo o despacho do tribunal, "em
dois períodos distintos, cada um com duração não superior a cinco
dias".Para Susana Seca, o facto de o
antigo primeiro-ministro (2005-2011) ter anunciado na televisão que
tinha estado no estrangeiro demonstra a falta de intenção de fugir à
Justiça."Quem pretende fugir ou ocultar o
seu paradeiro não o publicita em órgãos de comunicação social", defende a
juíza-presidente, sublinhando que "o arguido regressou voluntariamente a
território nacional após as referidas deslocações, encontrando-se
presente e contactável."A magistrada
conclui por isso, no despacho noticiado pelo jornal digital ECO e ao
qual à Lusa teve também acesso, que não existiu qualquer incumprimento
do TIR, não havendo justificação para alteração das medidas de coação.José
Sócrates, de 68 anos, está pronunciado (acusado após instrução) de 22
crimes, incluindo três de corrupção, por ter, alegadamente, recebido
dinheiro para beneficiar em dossiês distintos o grupo Lena, o Grupo
Espírito Santo (GES) e o 'resort' algarvio de Vale de Lobo.No
total, o processo conta com 21 arguidos, que têm em geral, negado a
prática dos 117 crimes económico-financeiros que lhes são globalmente
imputados.O julgamento decorre desde 03 de
julho no Tribunal Central Criminal de Lisboa, órgão que em 11 de
novembro esclareceu que os crimes de corrupção relacionados com Vale do
Lobo podem prescrever no primeiro semestre de 2026.Paralelamente,
aguarda-se decisão do Tribunal da Relação de Lisboa sobre se será
julgado conjuntamente com o processo principal um processo secundário da
Operação Marquês no qual José Sócrates responde por três crimes de
branqueamento de capitais relacionados com os alegados crimes de
corrupção em julgamento no processo principal.O Ministério Público informou, em comunicado, que recorreu também da
decisão de Susana Seca de rejeição da junção dos dois processos, com o
objetivo de "evitar duplicação de diligências e decisões finais
distintas" sobre a mesma matéria.A próxima sessão do julgamento do processo principal está agendada para 06 de janeiro.