Tribunal de Contas diz que não age de forma diferente consoante o Governo em funções
11 de set. de 2024, 12:25
— Lusa/AO Online
José
Tavares está a ser ouvido na comissão de parlamentar de Economia
sobre a auditoria do Tribunal de Contas à privatização da ANA, divulgada
em janeiro deste ano, que concluiu que a operação não salvaguardou o
interesse público, por incumprimento dos seus objetivos, como o de
minimizar a exposição do Estado aos riscos de execução.Na intervenção inicial na comissão parlamentar, o presidente do
Tribunal de Contas recordou que o pedido de auditoria foi da Assembleia
da República, de forma unânime, e disse que a entidade não faz política e
que “não questiona as opções políticas e político-legislativas” pois a
separação de poderes é “um princípio sagrado”.“O
relatório [da auditoria] foi divulgado no tempo certo, não escolhemos
tempo para divulgar relatórios, nunca. Mas apressamo-nos a divulgar logo
a seguir ao Ano Novo porque havia eleições e não quisemos
imiscuir-nos”, afirmou aos deputados.Já em
resposta ao Chega, Tavares disse que não se pode equacionar sequer que o
Tribunal de Contas possa alterar o seu comportamento face ao poder
político do momento."Entristece-me que o
senhor deputado ponha em cima da mesa a possibilidade de o Tribunal
consonante o Governo que estiver em funções agir desta ou dquela forma.
Isso é algo que não acontece e se acontecesse eu não estaria em
funções", afirmou.José Tavares disse ainda
que, na auditoria divulgada em janeiro, não há contradições quanto ao
que disse o Tribunal de Contas em 2016 também sobre a privatização da
ANA pois aí não houve um relatório, o que houve foi um “relato [feito
pelos auditores] para contraditório” que foi enviado a várias entidades,
uma das fases de um processo de auditoria. José
Tavares disse ainda que nesse processo o relato não tinha a
“fundamentação necessária” e que o Tribunal de Contas decidiu cancelar
essa ação de auditoria, (essa não tinha sido pedida pelo parlamento),
considerando que não é inédito e é "normal o Tribunal cancelar ações de
auditoria”.Segundo a TVI, esse relato de
2016 "chegou a conclusões diametralmente opostas" e indicava que a
privatização “revelou-se adequada à luz do interesse dos contribuintes".O
presidente do Tribunal de Contas disse ainda que, entre os juízes
conselheiros, o relatório da auditoria à ANA contou apenas com um voto
contra, e não quatro, e que contou foi com três declarações de voto, mas
que não foram votos contra.Sobre a
auditoria só ter sido conhecida este ano, José Tavares disse que o
relatório da auditoria poderia ter sido divulgado em 2020, mas que não
foi porque então o parlamento pediu ao Tribunal de Contas "a auditoria
ao Novo Banco com prioridade sobre tudo" e que a entidade de imediato
cumpriu a ordem parlamentar.A venda de
100% do capital da ANA Aeroportos à Vinci foi iniciada em 2012 e
concluída em 2013 pelo Governo PSD/CDS-PP liderado por Pedro Passos
Coelho, no âmbito de um pacote de privatizações num momento em que
Portugal estava a ser alvo do programa de assistência financeira
negociado entre a ‘troika’.De acordo com o
relatório de auditoria do TdC à privatização da ANA, “a materialização
dos principais riscos identificados” leva a concluir “não ter sido
minimizada a exposição do Estado português aos riscos de execução
relacionados com o processo” de venda, “não se tendo assegurado que o
enquadramento deste processo protegeria cabalmente os interesses
nacionais”.O TdC concluiu também “não ter
sido maximizado o encaixe financeiro resultante da alienação das ações
representativas do capital social da ANA” e “não se ter verificado o
reforço da posição competitiva, do crescimento e da eficiência da ANA,
em benefício do setor da aviação civil portuguesa, da economia nacional e
dos utilizadores e utentes das estruturas aeroportuárias geridas pela
ANA”.No parlamento, o juiz
conselheiro José Manuel Quelhas (relator do relatório) disse que o
Tribunal de Contas não avalia se as privatizações são boas ou não para o
país, que é discussão política, mas o contrato e que a grande crítica
do Tribunal de Contas foi à desproporção do contrato entre o Estado
português e a Vinci, considerando que o problema adveio de esse processo
contratual ter sido "feito em contínuo", sem uma definição antecipada
do "objeto contratual"."Há vendedor, há
vários candidatos, mas o objeto contratual está ainda em construção.
Quando dizemos que há uma sobreavaliação da oferta da Vinci é que o
objeto contratual sofre alterações. Quais as significativas? É desde
logo o monopólio por 50 anos", afirmou.Ainda
sobre a privatização da ANA, o Tribunal de Contas tem ainda em curso
uma auditoria ao acompanhamento do contrato de concessão, que disse hoje
José Tavares será divulgada a “breve trecho”.Nesta
audição, o Tribunal de Contas foi muito criticado pelos grupos
parlamentares do PSD, Iniciativa Liberal e Chega, que consideraram mesmo
que houve muitas questões por responder.No final, deputados e Tribunal de Contas concordaram que serão enviadas perguntas escritas a que a entidade responderá.