Tribunal condena advogada nos Açores a quatro anos e seis meses de prisão
1 de jul. de 2019, 13:59
— Lusa/AO Online
A advogada estava acusada de
ter ficado com parte do valor de uma indemnização dos seus clientes, num
processo que envolvia pescadores do Pico, nos Açores, abalroados em
2004 por um navio da National Geografic.Os
pescadores foram resgatados e indemnizados pelo armador, mas a advogada
"ficou com 207.223 mil euros" e "entregou apenas 45 mil euros", segundo
ficou privado em tribunal.Na leitura do
acórdão no Tribunal Judicial de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, a
juíza disse que a arguida "sabia da sua conduta ilegal, agiu de modo
livre, sabendo que a quantia não lhe pertencia" e que lhe foi "entregue
por força da sua profissão".O Tribunal deu como provado que a advogada se apropriou das indemnizações dos lesados, dinheiro “gasto em proveito próprio".A
arguida, que nunca compareceu em nenhuma audiência de julgamento, tendo
apresentando vários atestados médicos, já tinha sido condenada a
pagamento de multas pelos crimes de desobediência e abuso de confiança,
lembrou ainda a juíza.Sublinhando "os
sucessivos subterfúgios" da arguida quando interpelada pelos lesados
sobre as indemnizações, a juíza apontou ainda que a advogada "lesou os
pescadores num valor que faria toda a diferença na vida" dos ofendidos e
"até hoje não entregou um único cêntimo".Na
leitura da sentença, a juíza frisou ainda "a gravidade da situação" e o
comportamento da arguida "num quadro de funções de advogada".Mário
Garcia Pereira, advogado que representa os lesados, disse que a decisão
"é adequada, justa e proporcional aos factos que ficaram apurados", já
que a arguida foi condenada a prisão efetiva e terá que "pagar ainda um
pedido de indemnização civil deduzido pelos seus clientes em 225 mil
euros"."Significa que, passados 15 anos
após o acidente e passado sete anos em que a arguida ficou com o
dinheiro dos lesados, finalmente começa-se a fazer justiça", sustentou.Manuel
Costa, advogado oficioso que representa os herdeiros de um dos
pescadores lesados, entretanto falecido, considerou "fraca a pena de
prisão", lamentando que o caso tenha sido julgado por "um tribunal
singular"."Deveria ter sido antes por um coletivo" e assim "a pena poderia ate ter sido seis ou sete anos de prisão", afirmou.“Isso não é admissível numa pessoa normal e num advogado muito menos”, disse aos jornalistas.Juliana
Silva, filha de um dos lesados, entretanto falecido, afirmou, em
declarações aos jornalistas, que a pena aplicada à advogada “não paga os
15 anos de sofrimento” da família.