Três em cada dez adolescentes dizem não gostar da escola
19 de dez. de 2018, 10:16
— Lusa/AO Online
O
estudo Health Behaviour in School-aged Children (HBSC) 2018, uma
iniciativa da investigadora Margarida Gaspar de Matos, da Universidade
de Lisboa, e da Equipa Aventura Social, é realizado em colaboração com a
Organização Mundial de Saúde e conta com a participação de 44 países.
Em Portugal, o primeiro estudo foi realizado em 1998, celebrando agora
20 anos.Foram
aplicados questionários ‘online’, em 42 agrupamentos de escolas, num
total de 387 turmas, havendo um estudo complementar nos Açores, sendo a
amostra constituída por 6.997 jovens do 6.º, 8.º e 10.º ano, a maioria
(51,7%) raparigas, com uma média de idades de 13,73 anos.O
estudo pretende estudar os estilos de vida dos adolescentes em idade
escolar nos seus contextos de vida, em áreas como o apoio familiar,
escola, amigos, saúde, bem-estar, sono, sexualidade, alimentação, lazer,
sedentarismo, consumo de substâncias, violência e migrações.De
acordo com o estudo, 29,6% dos jovens não gostam da escola,
considerando que o pior é “comida do refeitório” (58,3%) e as aulas
(35,3%) e o “menos mau” são os intervalos/recreios (8,3%). Os alunos sugerem que, para melhorar a comida do refeitório, esta “ser melhor cozinhada (57,2%)” e “mais variada (44,2%)”.A
grande maioria (80,3%) dos alunos sente-se sempre ou quase sempre
segura na escola, enquanto 13,7% referem que sentem muita pressão com os
trabalhos da escola. Já
85,6% disseram que só faltam às aulas quando estão doentes ou têm algum
imprevisto, refere o estudo, indicando ainda que 14,2% dos jovens
considera-se, na opinião dos professores, “muito bom aluno” e 51,8%
avalia-se como um aluno com pouco ou nenhum sucesso académico. As
dificuldades apontadas na escola são que, às vezes ou sempre, a matéria
é demasiada (87,2%), aborrecida (84,9%), difícil (82%) e a avaliação
“um stresse” (77%). Mais de metade aponta a pressão dos pais pelas boas
notas.A
maioria (54,8%) disse que pretende prosseguir os estudos universitários e
cerca de um terço dos alunos do 8.º e 10.º anos tem fracas expectativas
face ao seu futuro profissional, ou não sabe.O
estudo realça a importância de estarem disponíveis na família, na
escola e na comunidade/autarquia “ações com crianças e adolescentes, que
promovam o gosto e o usufruto na e pela escola, uma alimentação
saborosa e saudável, o aumento de expectativas face à escola, às
matérias escolares e ao seu impacto no futuro profissional”. “O
afastamento dos alunos portugueses da escola tem sido referido em
relatórios anteriores e estes resultados merecem uma
continuidade/incremento de ações de revisão curricular no que diz
respeito à adequação, relevância e extensão das matérias escolares”,
defende o HBSC.Sublinha
ainda que “o aspeto da gestão da ansiedade relacionada com as
avaliações e os trabalhos da escola, bem como a pressão dos pais face às
classificações, fica a merecer reflexão”.O
estudo revela também que 79,3% dos adolescentes têm três ou mais
amigos, embora 26,4% confessem ser difícil fazer novos amigos. Quase
dois terços disseram conhecer pessoalmente todos os seus amigos,
enquanto 34,1% referem que têm um ou mais amigos que só conhecem
“virtualmente”Nos
tempos livres, 56,6% usam o telemóvel, 46,9% ouvem música e 35,7%
dormem, em todos os casos várias horas por dia, e 50,7% afirmam que é a
"falta de tempo" que os impede de desenvolver mais atividades de lazer.
Metade
dos inquiridos disse que raramente ou nunca lê, 80% raramente ou nunca
fazem atividades de voluntariado, 65,7% raramente ou nunca frequentam
atividades religiosas e 86% raramente ou nunca têm intervenção
associativa ou política. Nesta
área, o estudo defende a importância de “ações com crianças e
adolescentes, que promovam a gestão do tempo, o convívio entre pares à
volta de atividades de caráter cultural, artístico ou desportivo e
ainda, a participação social e exercício da cidadania ativa”.