1 de jun. de 2020, 01:18
— Tatiana Ourique /AO Online
Melissa Vieira, natural
da Praia da Vitória, é a terceira musicoterapeuta do projeto MusicoterapiAçores.
Juntou-se às micaelenses Marisa Raposo e Letícia Dionizio no projeto e trouxe a
musicoterapia para a ilha Terceira.
Atualmente apenas duas
ilhas têm a terapia que atua em diversas patologias e em todas as idades: “A
Musicoterapia consiste num processo interpessoal, direcionado para objetivos
terapêuticos, no qual o terapeuta ajuda o(s) utente(s) a melhorar, manter ou
restabelecer o seu bem-estar físico, emocional, cognitivo, comunicativo e/ou
social, utilizando experiências musicais e as relações interpessoais enquanto
forças de mudança”, define a nova musicoterapeuta Melissa Vieira que acrescenta
que a terapia através da música desenvolve e restabelece potenciais funções do
utente para que consiga alcançar uma integração satisfatória e,
consequentemente, uma melhor qualidade de vida, através da prevenção,
tratamento ou reabilitação.
A
Musicoterapia envolve um conjunto de elementos essenciais à sua prática, nomeadamente
um plano terapêutico composto por diversos estádios: avaliação inicial com uma
escala específica, identificação de sinais e sintomas, estabelecimento de
objetivos terapêuticos, aplicação de técnicas de intervenção e avaliação
periódica com baterias de teste validadas.
A
música é o elemento central do tratamento e o utente poderá ser desafiado a
produzir ou simplesmente a ouvir. O efeito da musicoterapia é “como uma força
motivadora e ‘disfarçada’ que nos leva a atingir objetivos que nada têm de
musicais”, refere Melissa Vieira em entrevista ao Açoriano Oriental.
Habitualmente, as sessões realizam-se
semanalmente, consoante as necessidades dos utentes que não precisam de ter
formação musical prévia. As sessões não pressupõem a aprendizagem de música ou
de um instrumento. O foco está na concretização de objetivos terapêuticos
não-musicais.
A
música é reconhecidamente terapêutica há diversos séculos, mas a sua aplicação
eficaz na saúde pressupõe hoje formação académica especializada: grau universitário
em musicoterapia aliada à formação clínica.
“A Musicoterapia pode intervir em qualquer
fase da vida: desde a fase pré-natal até aos cuidados terminais. Pode atuar nas
áreas da pediatria/desenvolvimento, perturbações do neuro desenvolvimento (como
a perturbação do espetro do autismo), multideficiência, reabilitação
neurológica e biopsicossocial, saúde mental, pedopsiquiatria, psiquiatria e
gerontologia, nos âmbitos da prevenção, recuperação de funções ou minimização
de perda de competências (cuidados psicogeriátricos e paliativos). Também se
pode destinar a indivíduos com desenvolvimento típico que objetivam desenvolver
e/ou melhorar certas necessidades, sejam elas do domínio social, emocional,
cognitivo, comunicativo, entre outros”, esclareceu a jovem recém-licenciada.
Os
resultados “dependem dos objetivos delineados inicialmente para cada utente dos
quais se destacam a melhoria de competências comunicativas e relacionais,
melhorias no foco e atenção individual/partilhada, melhorias ao nível da
expressão corporal e emocional (transportando sentimentos e sensações do
interior para o exterior através dos instrumentos, de letras e músicas
improvisadas ou já existentes. O domínio não verbal para muitos utentes acaba
por ser o caminho mais seguro), melhorias dos níveis fisiológicos (frequência
cardíaca e respiratória, pressão arterial), diminuição de crises de ansiedade e
redução do stress; auxilio no tratamento contra certas doenças (suporte dor
crónica) e melhorias na coordenação motora” refere a musicoterapeuta.
O projeto MusicoterapiAçores foi
fundado em 2011, em São Miguel, por Marisa Medeiros Raposo e conta desde março
de 2018 com a colaboração de Letícia Dionizio. Em 2020 Melissa Vieira juntou-se
à equipa a partir da ilha Terceira. Uma chegada tardia da terapia à ilha lilás
que a jovem praiense justifica: “antes não havia profissionais com a
referida formação universitária em musicoterapia. Em Portugal, a única formação que habilita ao
exercício profissional da musicoterapia é o mestrado da universidade lusíada de
Lisboa”. Melissa Vieira admite que levar a musicoterapia a todas as ilhas da
região seria “um sonho incrível”.
Como forma de divulgar esta área de
intervenção, as três musicoterapeutas açorianas promoveram, durante a
quarentena, diretos diários na rede social Facebook com musicoterapeutas portuguesas
convidadas para falarem sobre diversos temas:
musicoterapia para grávidas, musicoterapia nas perturbações do
neurodesenvolvimento-Autismo, musicoterapia nas multideficiências-paralisia cerebral,
Adaptação de conteúdo académico para as sessões de Musicoterapia e
Musicoterapia na geriatria - Demências e promoção do bem-estar. “Para nós, é
muito importante a divulgação dos benefícios da musicoterapia demonstrados pelas
evidências científicas, de modo a que o público em geral esteja esclarecido e
tenha conhecimento dos objetivos que podem ser atingidos quando procuram os
nossos atendimentos terapêuticos. O feedback que tivemos foi muito positivo,
tivemos um grande alcance de pessoas e grande envolvimento durante o direto com
perguntas e dúvidas acerca do assunto tornando-o leve e interessante. Isso
motivou-nos muito” conclui a jovem açoriana que garante que as conversas online
sobre musicoterapia vão continuar mesmo depois do isolamento.