Tratamentos da hepatite C iniciados em 2020 e 2021 caíram mais de 40%
28 de jul. de 2022, 10:52
— Lusa/AO Online
“Da avaliação
da evolução do número de tratamentos por ano, destaca-se uma redução
superior a 40% no número de tratamentos iniciados nos anos 2020 e 2021,
podendo refletir o impacto da pandemia de covid-19”, adianta o documento
de 2022 do PNHV, um dos programas de saúde prioritários da
Direção-Geral da Saúde.O relatório, que é
apresentado hoje, Dia Mundial das Hepatites Virais, salienta, porém, o
aumento do número de testes de anticorpo anti-VHC [vírus da hepatite C]
realizados em 2021, traduzindo "já uma retoma da atividade, apesar das
segunda e terceira vagas da pandemia”.“Ainda
assim, da avaliação pelo grau de fibrose, 43% dos doentes apresentava
uma fibrose avançada previamente ao início de tratamento, valor inferior
ao verificado nos primeiros dois anos após disponibilização dos novos
antivirais de ação direta (AAD)”, alertou o documento.O
PNHV considera este um valor elevado, particularmente a percentagem de
cirrose, o que leva a “pensar que ainda existe um número importante de
doentes em risco elevado de carcinoma hepatocelular, pelo que importa
unir esforços para diagnosticar os doentes que necessitarão de
intervenção médica”.Em 2015, Portugal
adotou a estratégia de tratar com AAD todas as pessoas infetadas pelo
vírus da hepatite C, independentemente do estadio da doença,
assumindo-se como “um dos primeiros países, a nível europeu e mundial, a
implementar esta medida conducente à eliminação da hepatite C até
2030”, recorda o PNHV.De acordo com o
relatório, os dados mais recentes da monitorização do tratamento da
hepatite C indicam que foram autorizados 30.086 tratamentos com estes
medicamentos, dos quais 28.844 já iniciados.“Quando
se restringe a análise ao universo de indivíduos que já concluíram o
tratamento e em que se pode avaliar a resposta virológica sustentada,
verifica-se que 18.074 estão curados (96,7%) contra 623 doentes não
curados (3,3%)”, sublinha o PNHV.Em 20%
dos doentes, a hepatite C crónica pode conduzir à cirrose e ou ao cancro
no fígado. Não existe vacina contra a hepatite C e a prevenção da
infeção passa por evitar, sobretudo, o contacto com sangue infetado.O
documento refere ainda que o número de tumores malignos do fígado
mostra uma evolução crescente, entre 2002 e 2019, de 260 para 599 para o
carcinoma de células hepáticas e de 120 e 469 para o tumor das vias
biliares intra-hepáticas.Em 2020, morreram
quase três mil pessoas por doença hepática e das vias biliares, cerca
de 2,3% do total de óbitos registados no país.“A
doença hepática no seu conjunto, incluindo as comorbilidades, consumo
excessivo de álcool e fígado gordo, é uma das mais importantes causas de
mortalidade precoce em Portugal”, alerta o documento.As
hepatites virais foram reconhecidas como uma das principais causas de
mortalidade a nível mundial, causando cerca de 1,34 milhões de mortes
por ano (cerca de 4.000 por dia), ultrapassando a causada por outras
doenças infecciosas, incluindo a infeção pelo VIH (680.000), a malária
(627.000) e em paralelo com a tuberculose (1,4 milhões).