Trabalho da Igreja Católica com vítimas de abusos deve ser caminho a seguir no país
Hoje 11:24
— Lusa/AO Online
“Este é um caminho a continuar,
procurando envolver toda a Igreja, mas igualmente também a sociedade
civil. Sem querer dar lições a ninguém, achamos que este processo, com a
ajuda de gente tão competente que tivemos e com o percurso que fomos
fazendo, é o caminho a percorrer neste país”, declarou José Ornelas,
também bispo da Diocese de Leiria-Fátima.O
prelado falava na abertura do congresso internacional “Da Reflexão à
Ação: O Papel da Igreja Católica na Prevenção e Resposta à Violência
Sexual”, que se realiza em Fátima.“Peço e
espero que tenhamos, com este processo, dado também um contributo válido
para que em Portugal se possa reconhecer a necessidade de trabalhar”,
para que as crianças “possam ter um futuro com esperança e com vida”,
adiantou.No discurso, José Ornelas
referiu-se ao trabalho da CEP nesta matéria, reiterando que, “desde o
início, o foco da atenção foi sempre colocada naqueles e naquelas que
foram vítimas inocentes de tais injustiças, com as consequências
nefastas e destruidoras que sempre comporta”.“Foi
em atenção a essas pessoas que se procurou estudar as dimensões e
caracterizar os contornos destes abusos na Igreja em Portugal, através
da Comissão Independente”, notou.Em
fevereiro de 2023, a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos
Sexuais Contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa validou 512 dos
564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número
mínimo de vítimas da ordem das 4.815.Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, período abrangido pelo trabalho da comissão.Para
o bispo, este foi um “despertar dramático”, necessário para que a
Igreja Católica se desse “conta da gravidade” da situação, da
“necessidade de lhe dar atenção”, e de “tratar com competência aquilo
que é tão complicado”.José Ornelas
referiu-se depois ao Grupo VITA, criado pela Conferência Episcopal
Portuguesa para acompanhar as situações de abuso sexual na Igreja
Católica.Para o presidente da CEP, este
processo é fundamental para “a construção de uma cultura nova de
sensibilidade, informação e prevenção que torne a Igreja e a sociedade
mais sensíveis a estes devastadores abusos e crie um ambiente de
segurança para o futuro das pessoas” e, particularmente, das crianças.José
Ornelas salientou ainda que este processo não está em vias de
conclusão, é quanto muito a conclusão de uma etapa, “porque esta é uma
missão que se deve ter na salvaguarda de criar condições de segurança e
de desenvolvimento integral e concreto” das crianças.Sobre
as compensações financeiras a vítimas de abusos na Igreja Católica,
notou que “não são o fruto de uma decisão civil ou jurídica”, mas uma
“decisão autónoma e personalizada da CEP, juntamente com os institutos
de vida consagrada”.“São uma decisão que
nos parece justa e que pode contribuir para o reconhecimento destas
pessoas e para a sua recuperação”, sustentou.Aos
jornalistas, José Ornelas realçou o esforço feito pela Igreja Católica,
referindo-se à Comissão Independente e ao Grupo VITA, considerando que
pode ser inspiração e um “caminho válido a seguir”, adaptado às
situações de cada instituição, como escolas ou ambientes desportivos.Segundo
os dados divulgados pela CEP este mês, foram apresentados 89 pedidos de
compensação financeira na sequência de abusos na Igreja Católica, tendo
78 considerados efetivos. Dos 89 pedidos,
“seis foram arquivados liminarmente por não se enquadrarem no âmbito do
regulamento definido (em quatro situações não ocorreu violência sexual,
uma ocorreu fora do âmbito da Igreja Católica em Portugal e noutra a
denúncia é inverosímil, porque se reporta a um denunciado falecido à
data dos alegados factos)”.