Trabalhadores do comércio da ilha Terceira manifestam-se pela segunda vez em três meses
3 de jan. de 2023, 17:32
— Lusa/AO Online
“Estamos
a lutar para defender os nossos direitos laborais e para ter um
contrato digno, a lutar por horários de trabalho sem adaptabilidade, sem
banco de horas e que permitam que os trabalhadores possam conciliar a
vida profissional com a vida pessoal. Estamos a lutar pelo aumento dos
salários, pelo subsídio de alimentação e pelas diuturnidades”, afirmou,
em declarações aos jornalistas, Magda Machado, delegada sindical e
funcionária de um supermercado na ilha Terceira.No
centro de Angra do Heroísmo, mais de uma centena de pessoas
protestaram com cartazes e cânticos, como “Câmara de comércio escuta, os
trabalhadores estão em luta”, “Não podemos aceitar empobrecer a
trabalhar” ou “Para além do trabalho temos vida pessoal”.Segundo
Magda Machado, o contrato coletivo de trabalho proposto pela Câmara de
Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH) prevê que a carga horária semanal
possa chegar às 50 horas.“Nós também temos
família, temos vida pessoal, queremos poder organizar a nossa vida
quando o nosso horário sai, sem sermos prejudicados, por ser dito de
véspera que temos de fazer mais horas no dia a seguir”, salientou.O
coordenador do Sindicato dos Trabalhadores de Indústrias
Transformadoras, Alimentação, Bebidas e Similares, Comércio, Escritórios
e Serviços, Hotelaria e Turismo dos Açores (SITACEHT/Açores), Vítor
Silva, acusou a câmara de comércio de ter negociado um contrato de com
um sindicato sem “representatividade” e sem “legitimidade no setor do
comércio e escritórios”.“Se for assinado,
nós fazemos oposição e não se aplica aos nossos associados. Nós não
vamos permitir, de maneira nenhuma, que brinquem mais com os
trabalhadores da ilha Terceira”, frisou.O
sindicalista reconheceu que a segunda proposta apresentada tinha algumas
melhorias, como a introdução de diuturnidades e o fim do período
experimental de 180 dias, mas alegou que está ainda está “muito longe”
do que os trabalhadores reivindicam.“Estas
pessoas, com uma carga horária destas, deixam de ter vida pessoal. Além
disso, temos vencimentos extremamente baixos num setor que até tem
crescido. Mesmo em altura de pandemia, o setor do comércio foi aquele
que mais cresceu”, salientou.Vítor Silva
avançou que o contrato prevê que os que os trabalhadores sejam forçados a
trabalhar em estabelecimentos noutro concelho sem serem compensados
pela deslocação.“Não se consegue
compreender que as câmaras de comércio se andem a queixar com o aumento
dos preços da energia e dos combustíveis e depois não se lembrem que os
trabalhadores também têm os mesmos custos”, criticou.O
dirigente sindical acusou ainda os patrões de terem chamado os
trabalhadores, “um por um, para pedirem que não viessem a esta
manifestação”.“A resposta está aqui.
Perante essa ameaça, os trabalhadores não tiveram medo, vieram aqui e
estão a dar a cara”, sublinhou, admitindo novas ações de luta.Questionado
pela Lusa, o presidente da CCAH, Marcos Couto, manifestou-se
surpreendido com a manifestação, alegando que já existe um “contrato
coletivo de trabalho assinado”, “pautado por uma grande seriedade”, com
“cedências de ambas as partes”.“É um contrato coletivo que encontra um ponto de equilíbrio, quer para colaboradores, quer para empresários”, afirmou.Marcos
Couto disse que o SITACEHT “nunca esteve interessado em negociar
rigorosamente nada com a câmara de comércio”, preferindo entrar numa
“vertente radical”.“Ninguém ganha com este tipo de manifestações radicais. A única entidade que ganha com isto é o próprio sindicato”, vincou.O
presidente da associação empresarial rejeitou que o contrato preveja um
horário de 50 horas semanais, frisando que “está perfeitamente
enquadrável na lei geral do trabalho”.“Julgo
que o grande problema destes trabalhadores e provavelmente até do
dirigente sindical é que não conhece nem a lei, nem o contrato que foi
assinado, o que tem levado a este tipo de situações que são
lamentáveis”, referiu.