Texto final aprovado na especialidade com votos contra de Chega e PCP
Eutanásia
7 de dez. de 2022, 11:50
— Lusa/AO Online
A votação do texto na Comissão
de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, contou
com os votos a favor de PS, IL e BE. Na
comissão parlamentar, a deputada social-democrata Paula Cardoso ainda
apelou aos deputados presentes para que a votação fosse adiada por uma
semana devido ao facto de estar agendada para hoje à tarde uma
conferência de líderes extraordinária para discutir o projeto de
resolução do PSD que propõe um referendo sobre a despenalização da
eutanásia, mas este apelo mereceu a oposição do PS, BE e Iniciativa
Liberal.O texto final, que tem por base os
projetos de lei apresentados por PS, IL, BE e PAN, segue agora para a
votação final global, que deverá ocorrer na sexta-feira, em plenário. No
debate em comissão, depois do apelo feito pelo PSD para adiar por uma
semana a votação, e a oposição manifestada por PS, BE e IL, o presidente
da 1.ª comissão, Fernando Negrão, afirmou que "para ocorrer um
adiamento neste momento", já depois de três, "teria que haver
unanimidade". Sendo "público e notório" que não havia essa unanimidade,
os deputados passaram logo à votação do texto de substituição.Após
a aprovação, a deputada social-democrata Paula Cardoso justificou a
abstenção com a liberdade de voto dada aos deputados do PSD na votação
sobre o tema, deixando ao "critério de cada um votar conforme a sua
consciência ditar".Pelo PS, a deputada
Isabel Moreira agradeceu à coordenadora do grupo de trabalho sobre a
morte medicamente assistida, a socialista Maria Antónia de Almeida
Santos, e aos serviços do parlamento, bem como a todos os deputados
representantes dos vários grupos parlamentares, nomeadamente aos do PSD
pelo seu “trabalho imaculado”. A deputada
Patrícia Gilvaz, da Iniciativa Liberal, enalteceu o facto de o processo
ter decorrido de "uma forma ponderada, participada", no qual foram
ouvidas várias entidades."No nosso
entender este texto final responde às dúvidas que o senhor Presidente da
República tinha manifestado no anterior processo e também acolhe as
recomendações feitas pelo Tribunal Constitucional", defendeu.Os
agradecimentos aos serviços e aos elementos do grupo de trabalho foram
partilhados pelo líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, que
defendeu que "o debate foi elevado" e que "o grupo de trabalho esteve à
altura do momento histórico que lhe era exigido". Considerando
que o novo texto responde ao TC e às dúvidas apontadas por Marcelo
Rebelo de Sousa, o bloquista mostrou-se satisfeito com o processo e o
seu resultado: "Estamos satisfeitos com o processo, com o texto e
conscientes que ele fará uma boa lei, uma lei humana, uma lei
constitucional e engrossará os direitos que os nossos cidadãos têm aos
seu dispor e fá-lo de uma forma sensata e ponderada", disse.Pelo
Chega, o líder parlamentar Pedro Pinto manifestou-se contra a aprovação
do texto e disse esperar para ver o que fará o Presidente da República
ou o TC.Alma Rivera, do PCP, também
reiterou a posição contra do PCP na matéria, sustentando que esta não é
uma "posição maniqueísta" e "prende-se essencialmente com as
consequências sociais da aprovação deste texto, sobretudo para aquelas
que são as camadas mais fragilizadas, mais excluídas e que têm mais
dificuldades, nomeadamente, no acesso à saúde e apoios sociais". O
texto estabelece que a “morte medicamente assistida não punível” ocorre
“por decisão da própria pessoa, maior, cuja vontade seja atual e
reiterada, séria, livre e esclarecida, em situação de sofrimento de
grande intensidade, com lesão definitiva de gravidade extrema ou doença
grave e incurável, quando praticada ou ajudada por profissionais de
saúde”.Desta vez, em comparação ao último decreto, o texto de substituição deixa cair a exigência de "doença fatal".O
texto final estabelece agora um prazo mínimo de dois meses desde o
início do procedimento para a sua concretização, sendo também
obrigatória a disponibilização de acompanhamento psicológico.Na
anterior legislatura, a despenalização, em certas condições, da morte
medicamente assistida, alterando o Código Penal, reuniu maioria alargada
no parlamento, mas foi alvo de dois vetos do Presidente da República:
uma primeira vez após o chumbo do Tribunal Constitucional, na sequência
de um pedido de fiscalização de Marcelo Rebelo de Sousa.Numa
segunda vez, em 26 de novembro, o Presidente rejeitou o diploma através
de um veto político realçando que ao longo do novo texto eram
utilizadas expressões diferentes na definição do tipo de doenças
exigidas e defendendo que o legislador tinha de optar entre a "doença só
grave", a "doença grave e incurável" e a "doença incurável e fatal".