Terramoto de 1757 em São Jorge causou mil mortes e foi o mais violento dos Açores
31 de mar. de 2022, 18:03
— Lusa/AO Online
No momento
em que a ilha de São Jorge - conhecida pela beleza das suas fajãs e pelo
seu premiado queijo, a par das conservas e bordados - está a ser
assolada por uma crise sismovulcânica, Avelino
Meneses, historiador, docente da Universidade dos Açores, referiu à
Agência Lusa que, “entre erupções vulcânicas, crises sismovulcânicas e
terramotos”, podem enumerar-se “seis eventos com maior significado”.Há
duas erupções a assinalar, em 1580 (vulcão da Queimada) e 1808
(Urzelina), uma crise sismovulcânica em 1964, e três terramotos, o
primeiro dos quais foi, “aliás, o maior, em 1757", dois anos após o
terramoto que arrasou Lisboa.É considerado
também "o mais mortífero e destrutivo da história de São Jorge e dos
Açores”, de acordo com Avelino Meneses, tendo ficado para a história com
“designações bem significativas como ‘O grande’ ou ‘Mandado de Deus’”.Em 1980, o terramoto que atingiu a ilha Terceira, também foi “catastrófico para uma parte de São Jorge”.Por
outro lado, em 1998, o terramoto que atingiu predominantemente o Faial,
“também com impacto significativo no Pico, provocou estragos igualmente
em São Jorge, mas de menor monta”, segundo o historiador.Avelino
Meneses explica que o terramoto de 1757 "teve maior incidência no concelho da Calheta e na freguesia do Topo (que no século XVIII era concelho), tendo o
epicentro sido na Fajã dos Vimes e intensidade máxima de XI na Escala
de Mercalli Modificada".“Aconteceu num
sábado, 09 de julho, quase à meia-noite, com toda gente recolhida, de
súbito, durou cerca de dois minutos e causou uma infinidade de réplicas
que se prolongam até setembro”, descreve o historiador. Segundo
os relatos históricos, "morrem em 1757 cerca de mil pessoas, atingindo
uma mortalidade de 20 a 30% nos povoados mais atingidos, Calheta e Topo,
tendo sido inúmeros os feridos, ao ponto de, em 1758, o rei ter
autorizado o lançamento de um imposto sobre o sal, o azeite e a
aguardente, o vinho, para pagamento a um cirurgião escocês, que na
altura tinha curado cerca de 200 pessoas". Para
além das perdas humanas, registaram-se "inúmeras perdas materiais no
património construído e natural, ficando tudo praticamente por terra na Calheta e no Topo", também porque "as técnicas e materiais
de construção eram rudimentares". O
terramoto conheceu uma agravante, uma vez que "ocorreu no seio de uma
grande crise cerealífera, que se estendeu de 1757 a 1759, e que muito
terá contribuído para piorar ainda a situação catastrófica em que
ficaram os desalojados". Desde a crise
sismovulcânica atual, que se iniciou há quase duas semanas, o CIVISA
identificou "cerca de 221 sismos sentidos pela população".A
ilha está com o nível de alerta vulcânico V4 (ameaça de erupção) de um
total de sete, em que V0 significa “estado de repouso” e V6 “erupção em
curso”.Segundo os dados provisórios dos
Censos 2021, a ilha de São Jorge tem 8.373 habitantes, dos quais 4.936
no concelho das Velas e 3.437 no concelho da Calheta.